Na vida “normal”, assim como chamo nossa vida passada, quando morávamos numa casa enorme, fixada ao chão, tínhamos vizinhos “normais” como todo mundo. Na nossa vida viajante aprendemos a conviver com novos vizinhos. São muitos ao longo do caminho. Não temos mais os vizinhos do nosso condomínio, que a gente cumprimenta, conversa no jardim, troca ideias quanto à manutenção das nossas casas. Com os mesmos vizinhos a gente convive na academia, na piscina, nas quadras de esporte, os mesmos, anos a fio. Convivemos cada vez menos com esses vizinhos, eles estão lá, na nossa casa grande, prontos para uma conversa quando retornamos.
Na estrada nossos vizinhos estão em movimento como nós. Um grupo em especial nos é muito frequente, especialmente quando a morada da vez é no pátio de postos de combustível, à beira das rodovias. Às vezes paramos para pernoitar e precisamos morar ali por alguns dias, à espera de um serviço ou de uma peça para o carro/casa. É aí que se estabelece a vizinhança com os caminhoneiros. É comum estarmos em meio a um mar de caminhões.
Nossos vizinhos caminhoneiros são de todas as idades e, a maioria, homens. Transportam de tudo, produtos para abastecer os supermercados, cargas vivas, madeira, material de construção, estruturas gigantes de ferro e alumínio, enormes tanques de combustível ou sei lá que outros líquidos. Há lugares à beira das rodovias que estão preparados para receber viajantes, sendo a maioria trabalhadores do asfalto. Os demais, como nós, pegam carona nas suas estruturas pela estrada. Os espaços são variados, sempre há banheiros com chuveiro e alguma área de descanso. Os mais sofisticados têm cozinha, área de lazer com jogos e TV. Nas cozinhas é possível encontrar forno de micro-ondas, máquina de café, água filtrada gelada. Há sempre espaços nos restaurantes com preços mais em conta para os caminhoneiros. Aproveitamos isso também, afinal, nós, como eles, moramos na estrada. Um serviço que cada vez aparece mais é o de lavanderia expressa. À tardinha ou à noite, é comum ficarmos na fila da lavanderia batendo papo com nossos vizinhos. É fácil perceber a diferença entre os donos dos caminhões e os empregados das grandes empresas de transporte, esses, muitas vezes mal pagos e se queixando de cansaço, com vontade de largar a vida na estrada.
Gosto de conhecer pessoas, gosto de vizinhar com elas. É comum os caminhoneiros cozinharem nas suas cozinhas adaptadas na carroceria dos caminhões. Eles abrem uma gaveta externa onde há o fogão, mantimentos e uma pequena geladeira. Nesse ponto temos muito em comum. Eu também cozinho na minha casinha, nos pontos de parada. Trocamos dicas, conversamos sobre pratos rápidos e gostosos, falamos sobre nossas famílias que vivem em terra firme, enquanto nossas vidas ocorrem em movimento. Falamos da vida, da saudade que sentimos, do prazer que temos em viver na estrada, dos nossos times de futebol, dos perrengues nas rodovias. São raras as mulheres do volante, menos raras são as esposas, namoradas, companheiras, viajando com seus parceiros. É comum que eu seja a única mulher nas estruturas de caminhoneiros das rodovias. Gosto de ouvi-los, contam sobre o tempo que estão fora de casa, alguns há meses, mostram fotos da família, relatam suas histórias. Quando ouvem que moramos na estrada em um Motorhome por opção de vida, são unânimes em dizer que pretendem fazer isso um dia: continuar vivendo sobre rodas, porém, sem a responsabilidade de trabalhar. Parece que, diferente de nós, nossos vizinhos caminhoneiros vivem sob um grande estresse, prazo para entrega das cargas, cobranças de economia e alta produtividade de parte dos empregadores e/ou contratantes.
Vizinhamos com os caminhoneiros por uma noite somente ou por alguns dias. Conversamos, compartilhamos experiências, aprendemos muito. Descansamos, comemos, caminhamos um pouco, olhamos juntos algum jogo de futebol na televisão que um ponto de apoio disponibilizou a nós viajantes, arrumamos nossas casas, lavamos nossas roupas. E assim a vida segue! Nossa vizinhança com os caminhoneiros é intensa, porém, única. Não lembro de ter revisto algum desses vizinhos, em outro momento, em outro ponto adiante. Continuamos no mesmo universo, mas outros vizinhos teremos para novos encontros. Talvez pela estrada a gente ouça alguma buzina amigável, talvez seja um vizinho caminhoneiro usando os códigos da estrada para nos dar um alô.
É bem movimentada essa vida de viajantes de estrada. Acho muito interessante e também nos proporciona conhecer pessoas muito diferentes do nosso convívio familiar. Conhecer, digo, por alto, pois conhecer a fundo uma pessoa, leva muito tempo. Normalmente, não conhecemos nem os nossos mais próximos. É uma vida bem agitada, às vezes divertida e educativa, mas eu não aguentaria isso por muito tempo. Gosto também muito de tranquilidade.
Temos tranquilidade também na nossa casinha! E vamos seguir juntos aqui no Exempplar!
Convivemos com pessoas diversas e interessantes..
Belo texto.
Assim é que deve ser
Obrigada! Que bom que estás conosco também aqui no Exempplar!
São momentos vividos….
Excelente percepção!
Obrigada! Que bom que gostaste!
A vida na estrada tem nos proporcionando experiências interessantes.,..
Excelente relato, adorei!
Obrigada! E vamojuntooooo…
Nós também gostámos desta convivência…
Excelente escrita
Obrigada! E vamojuntooooo aqui no Exempplar!
A Élida com sua sensibilidade retrata nossos vidas nômade…
Os amigos caminhoneiros nos dão sensação de segurança quando escolhemos dormir vizinhos à eles. Nas rodovias nos cumprimentam e às vezes, nas exceções que sempre existem, nos deixam encabulados com ultrapassagens arriscadas. São vidas corridas correndo.
É verdade! Tu falas com a propriedade de quem também vive na estrada!
Esta é a realidade da estrada…..
Parabéns pelo texto
Obrigada! Continue conosco aqui no Exempplar!
Que texto excelente, vocês são maravilhosos
Obrigada querido! E continue conosco aqui no Exempplar ❣️
Está é a vida que escolhemos viver, sempre em movimento , novas amizades e muitas descobertas…