A ESPERA DO GÊISER

Crédito/foto: Renata Cabidelli

Estamos todos à sua espera. Esse momento faz parte da cultura local. Estamos no Parque das Águas em Caxambu, Minas Gerais. O gêiser é uma fonte de água mineral gasosa que brota espontaneamente do centro da terra, uma ou duas vezes por dia. Pela manhã ele é esperado como um ritual.
Há os moradores locais que conhecem o parque, as águas, falam sobre tudo com a propriedade de quem respira todos os dias o ar altamente oxigenado desse lugar e se banha nas suas águas mágicas. Há os turistas que falam alto, perguntam muito, não sabendo direito o que fazem ali, mas querendo aproveitar tudo, orientados por seus guias turísticos. E há os amantes do gêiser como eu: as pessoas que vêm regularmente a cidade com a intenção de usufruir desse ar, desse clima, e para senti-lo, nobre, imponente, poderoso! Ele, o gêiser! Ele é autônomo, ele sabe a hora que explode, que brota do fundo da terra inundando a praça e se derramando sobre todos os que o aguardam.
Enquanto ele se prepara para lançar seu efeito sobre nós, esperamos. O gêiser reina soberano no centro de uma praça, localizado entre as fontes do parque. À sua volta, todos se acomodam em bancos rústicos que devem ter sido construídos aqui há muitas décadas. Tudo muito rústico, orgânico, visceral. Durante a espera a gente conversa ou fica em silêncio, ouvindo os sons da pequena floresta a nossa volta. É isso, o Parque das Águas de Caxambu é uma floresta preservada, no centro da cidade, onde há árvores nativas, algumas frutíferas, muitos pássaros e répteis também. Os pássaros fazem a sonoplastia que leva à reflexão, à magia desse momento! O gêiser dá sinal, começa a fazer barulho, é o gás, a água borbulhando, avisando que já vai jorrar. Todo mundo se prepara, fica de roupa de banho. Eu estou pronta, estou sempre pronta, todos os dias a esperá-lo. Quem não veio preparado se joga de qualquer jeito.
E lá vem ele, subindo, borbulhando nos seus tubos e emanando gás no seu topo como uma chaminé anunciando boas novas. Enquanto nós corremos para suas águas, a vida, creio que passa igual para os trabalhadores desse local. Há o rapaz que dá uma pressão na água se o gêiser estiver sem força para jorrar naturalmente. Há os que limpam o parque, os banheiros, tudo para que os usuários curtam o ambiente. Há os que recolhem o lixo, há os trabalhadores da recepção. Para eles talvez a espera seja pela hora de ir embora, talvez nunca tenham curtido a espera mágica pelo gêiser, talvez nunca tenham tido esse privilégio.
Agora estou debaixo da água do gêiser, sinto frio, mas não me importo. Logo parece que a água aquece, mas acho que não, é meu corpo sendo tomado pela energia dessa água, pela corrente espiritual gerada pela conexão entre as pessoas que, como eu, estão mergulhadas nessa sensação. Faço oração, agradeço o momento, me emociono, sinto as coisas ruins escorrerem pelo meu corpo e irem embora. Sinto limpeza do corpo e da alma, são mágicos esses três ou quatro minutos. Algumas pessoas falam alto, comemoram a experiência. Não ouço nada, prefiro o silêncio. Valeu a pena a espera!


Estamos vendendo nosso Motohome… Claro que continuaremos por aí TRILHANDO A VIDA ,porem com uma nova proposta que é surpresa.

Maria Élida Machado

Nota da redação: a foto que ilustra essa matéria é de um visitante que exemplificou bem o texto discorrido, pois esteve por aqui por 2 dias apenas com foco em ver o geiser em ação. E para isso, se postou pacientemente à espera na parte da tarde. Conseguindo seu intento e confirmando à nossa reportagem que valeu muito a pena.