Stefan Salej
A inflação está em baixa, o desemprego, nas alturas mas estável, a exportação está indo bem, o saldo do balanço de pagamentos está bom, os juros da SELIC estão baixando, mas os dos bancos, não, os governos estaduais e municipais já foram contemplados com programas especiais de refinanciamento, o BNDES já pode aumentar os juros a longo prazo porque as empresas não têm outras fontes de financiamento e, não no final das contas, todo mundo já acostumou a administrar as situações no meio da permanente crise política. E aí podemos soltar as emendas parlamentares para mais uma rodada de criarmos estabilidade política e, com algumas medidas, garantirmos a meta fiscal.
E aí vem a solução mais idiota possível, acompanhada com a frase de que o povo vai entender: aumento de impostos. O povo está saturado de ter que compreender essa situação, que se arrasta desde o governo do FHC. Juros altos, baixa taxa de crescimento de emprego, políticos fazendo o que querem e acham que estão certos e o governo achando que aumento de impostos resolve. Ou então que com um band aid da pior qualidade, no dia em que aumenta o imposto, faz uma reforma reduzindo algumas idiotices burocráticas que são uma gota no oceano do nosso sistema de governabilidade burocrática.
Em resumo, me engane que eu gosto.
Não acredito que nossos ilustres próceres econômicos não têm conhecimento técnico do que estão fazendo. Que a estabilidade monetária e fiscal são fundamentais para a estabilidade democrática, não há dúvida alguma. Mas, que essas cabeças, carecas de saber, não têm outra solução, também não dá para acreditar. Ou então, só tem essa solução? O aumento de impostos sobre combustíveis é um imposto linear, atinge todo mundo e desencadeia um aumento de todos os custos adicionais. Até vaca no pasto fica atingida, porque a ração, leite, remédios, tudo vem com transporte. E o transporte público? Vai aumentar já, já. Ninguém segura mais os aumentos, mesmo que as cabeças ilustres em Brasília tenham calculado que isso não vai afetar a meta de inflação.
A revolta mais contundente foi feita pela Federação das Indústrias de São Paulo, com a campanha do pato revoltado com o aumento de impostos. Mas mesmo com protesto de algumas lideranças empresariais, os empresários não acompanharam os paulistas nesse protesto. E pior, onde estão os sindicatos dos trabalhadores, que, como sempre, serão mais prejudicados? Vão para ruas defender seus próceres condenados e estão calados diante desta barbárie maldosa que nos foi infringida.
Num país relativamente desenvolvido, com milhares de doutores e boas universidades, temos sempre as soluções mais simples, menos criativas e piores por parte dos governos: para alguns tudo, como pagamentos milionários de emendas parlamentares e lavagens de dinheiro descobertos pela justiça, e para a maioria a conta para pagar. Até quando esse modelo de maldade econômica e enganação política vai aguentar?
Stefan Salej, consultor empresarial, foi presidente do Sebrae MG e sistema Fiemg
Fonte: Coluna MG Sindjori