Imagem acima: crédito: Baldisseri (in memorian)
Mudamos de tantas maneiras! Mudamos de quarto, de casa, de escola, de opinião, de prato, de roupa, de pensamento, de cabelo, de namorado, de calçada, de amigos, de cidade, de princípios, de cultura, de amores, de dores, de conceitos, de trabalho, de médico, de aflição… Mudamos até de vida!
Somos mutantes. Nada é para sempre e, muito menos, do mesmo jeito, eternamente. Somos seres em mutação, que nos modificamos e somos modificados constantemente, desde o principio e mesmo depois do fim. Somos inacabados. Incompletos. Mudamos para nos transformar e ao nos transformar, mudamos.
A mutação é inerente à vida. Mudamos a cada segundo, a cada instante, a cada expressão. Mudamos para pior, para melhor ou apenas para parecermos os mesmos, mesmo quando não somos mais.
A vida pede mudanças, exige transformações, modifica-se, mesmo quando não queremos. Não se para a vida simplesmente por opção, mas ela se modifica independentemente de nossa vontade, situação ou tempo. Mesmo se nada é feito, se nada se quer ou se nada queremos ser, ela será outra, diferente e indiferente à nossa decisão de estagnação. Podemos até parar, mas a vida não para; ela continua a se modificar; ou o que dela restar, para além do fim.
Por mais que nos enclausuremos, nos isolemos e ignoremos as mudanças, elas acontecem. Podemos não querer, mas, sem querer, a vida avança; vai em busca de sua existência, de seu destino, enquanto houver vida, um sopro, um suspiro qualquer.
Como não sou mais o mesmo do que fui e como não serei mais o mesmo do que sou, sou mutante! Sou eu mesmo, nenhum outro, mas acumulado de dias e experiências que me fizeram outro; do contrário, sou inanimado. Mesmo os seres inanimados se modificam e se transformam, não por eles mesmos, mas pela cercania de outras existências. As partes se modificam pelo todo.
Sou e somos mutantes: assim é a vida, e vida significa mudança. Basta um sopro, a inércia se rompe e a transformação tem início. Em movimento, movimenta-se; pressupõe energia, requer transformações, mudanças infindáveis. A mudança é iniciada a todo momento; é um processo que se desenvolve e avança em todas as direções. Não há volta, apenas modificações, que avançam e que serão, também, modificadas constantemente.
Não se pode nascer de novo. Não da forma original, mas a partir do ponto de onde se está. A mudança é irreversível e isto não muda para nós que somos seres mutantes.
Antonio Trotta
Jornalista, escritor e poeta
@atrottamg
Vida é movimento! Estamos na espiral evolutiva e nela nos movemos, não de forma linear, pois são muitas as esferas pelas quais circulamos! Belo texto, Trotta! Assim seguimos, pelo fio da eternidade!
Sempre em movimento, enquanto houver vida. Avante e para cima. Grato.
Muito bom Trotta!
Estar consciente dessas mudanças nos faz ver a vida com mais sabedoria.
Verdade. A consciência nos possibilita entender melhor essas mudanças.
Meu caro Trotta, coincidência ou não, se é que existe, hoje pela manhã escrevi um texto sobre I Ching, mudanças e entropia. Se me permite, segue o rabisco.
O I Ching, ou Livro das Mutações, ensina que a transformação é a lei fundamental do universo — um princípio que ecoa até mesmo na ciência moderna, como na ideia de entropia. Na física, a entropia mede a desordem de um sistema, mostrando que tudo tende naturalmente à mudança, à dispersão e à renovação. Nada permanece igual; assim como o tempo não volta atrás, a entropia garante que todas as coisas evoluam, se decomponham e se reorganizem em novos ciclos.
Os sábios chineses já intuíam essa verdade milênios antes da termodinâmica. Lao Tsé, no Tao Te Ching, afirmava que “o que está firme será quebrado, o que está afiado será embotado” — uma observação que poderia descrever a própria ação da entropia. O I Ching vai além, mostrando que a impermanência não é caótica, mas segue padrões discerníveis, como os hexagramas que representam momentos de estabilidade e ruptura. O sábio Confúcio, ao estudar o I Ching, refletiu: “Se pudesse viver cinquenta anos a mais, dedicaria todos eles ao estudo das Mutações”, pois nelas está a chave para compreender o fluxo inevitável da existência.
Assim, enquanto a entropia explica por que tudo muda (até mesmo estrelas se apagam e moléculas se rearranjam), o I Ching oferece um mapa para navegar como essas mudanças acontecem — ensinando que resistir é inútil, mas compreender seu ritmo é sabedoria. Como diz o hexagrama K’un (A Receptividade): “A terra é dócil ao céu; ela aceita todas as sementes e as transforma”. Do micro ao macro, da termodinâmica ao Tao, a mensagem é a mesma: tudo flui, e só existe verdadeira harmonia quando nos alinhamos a esse movimento.
Verdade. Temos que estarmos atentos. Mudar é sempre preciso e necessario. Sei texto uma boa reflexão.
Belíssimo texto, parabéns Trotta.
Movimento é a dança da vida!
Sim. Dançar e movimentar, a vida pede espaço e agitação.
Muito legal!!
Grato. Obrigado por sua participação nessa coluna.
Meu caro Trotta, coincidência ou não, se é que existe, hoje pela manhã escrevi um texto sobre I Ching, mudanças e entropia. Se me permite, segue o rabisco.
O I Ching, ou Livro das Mutações, ensina que a transformação é a lei fundamental do universo — um princípio que ecoa até mesmo na ciência moderna, como na ideia de entropia. Na física, a entropia mede a desordem de um sistema, mostrando que tudo tende naturalmente à mudança, à dispersão e à renovação. Nada permanece igual; assim como o tempo não volta atrás, a entropia garante que todas as coisas evoluam, se decomponham e se reorganizem em novos ciclos.
Os sábios chineses já intuíam essa verdade milênios antes da termodinâmica. Lao Tsé, no Tao Te Ching, afirmava que “o que está firme será quebrado, o que está afiado será embotado” — uma observação que poderia descrever a própria ação da entropia. O I Ching vai além, mostrando que a impermanência não é caótica, mas segue padrões discerníveis, como os hexagramas que representam momentos de estabilidade e ruptura. O sábio Confúcio, ao estudar o I Ching, refletiu: “Se pudesse viver cinquenta anos a mais, dedicaria todos eles ao estudo das Mutações”, pois nelas está a chave para compreender o fluxo inevitável da existência.
Assim, enquanto a entropia explica por que tudo muda (até mesmo estrelas se apagam e moléculas se rearranjam), o I Ching oferece um mapa para navegar como essas mudanças acontecem — ensinando que resistir é inútil, mas compreender seu ritmo é sabedoria. Como diz o hexagrama K’un (A Receptividade): “A terra é dócil ao céu; ela aceita todas as sementes e as transforma”. Do micro ao macro, da termodinâmica ao Tao, a mensagem é a mesma: tudo flui, e só existe verdadeira harmonia quando nos alinhamos a esse movimento.