Olavo Machado Junior
Duas imagens opostas e contraditórias do nosso país estão presentes nas páginas dos jornais, nas telas da televisão, nas ondas do rádio e também nas redes sociais: de um lado, a Câmara decide se aceita, ou não, a denúncia da Procuradoria-Geral da República contra o presidente Michel Temer; de outro, em sessão histórica, o Senado Federal aprovou ampla reforma da legislação trabalhista, estabelecendo novos parâmetros nas relações entre empregados e empregadores. Em outras palavras: de um lado, o Brasil que deu errado; de outro, o Brasil que deu certo.
Os brasileiros já escolheram o seu lado – já fizeram a sua opção. No que se refere às investigações deflagradas a partir da Operação Lava-Jato, entendem que os fatos precisam ser esclarecidos, que os culpados devem ser punidos e os inocentes devem ser resgatados em sua credibilidade pela opinião pública. Mas a grande aspiração da sociedade brasileira é ver prosperar o Brasil que dá certo e cujo símbolo mais emblemático, neste momento, é exatamente a aprovação da legislação trabalhista no Senado.
A grande preocupação – quase apreensão – é a de que os embates no campo da política, envolvendo Executivo, Legislativo e Judiciário, ponham em risco as medidas que precisam ser tomadas na área da economia, o que, na realidade, já está acontecendo. Superada a reforma das relações trabalhistas, inúmeras outras precisam ser feitas e, como se diz no jargão legislativo, em regime de “urgência urgentíssima”. É preciso concluir a reforma da Previdência Social e, em seguida, encarar com obstinação a reforma tributária, a reforma fiscal e a reforma política.
Enfim, o que o momento nos pede é serenidade e união. Vivemos e construímos um país de empreendedores e trabalhadores sérios, obstinados na missão de construir uma nação capaz de gerar riquezas e criar oportunidades. A indústria brasileira é formada por uma parcela significativa da nossa população – são cerca de 500 mil empresas e mais de 10 milhões de pessoas, entre empresários e trabalhadores, todos trabalhando juntos por um Brasil melhor.
Não é justo nem faz sentido paralisar o Brasil. Precisamos, sim, investigar os malfeitos cometidos por uma minoria de descompromissados com o país e que, definitivamente, não representam a sociedade brasileira. Em relação a estes, todas as acusações, reafirmo, precisam ser apuradas com rigor jurídico, seriedade e, muito especialmente, respeito à Constituição Federal.
O que não podemos – e não temos o direito de fazer – é condenar gerações inteiras de brasileiros ao baixo crescimento econômico e, via de consequência, a tudo de danoso que é provocado pela recessão com a qual convivemos nos últimos anos: desemprego gigantesco (hoje são cerca de 14 milhões de trabalhadores, especialmente os mais jovens e menos qualificados) e precarização de serviços essenciais, como os de saúde, educação e segurança pública.
Precisamos trabalhar para resgatar a competitividade da economia brasileira, sobretudo da indústria nacional, que se encontra hoje em desvantajosa posição quando comparada aos países mais desenvolvidos, inclusive na nossa vizinhança. São muitas as razões que nos colocam nessa posição. Entre elas se destaca, com certeza, o que se convencionou denominar “Custo Brasil”, que tira a nossa capacidade de disputar mercados e é formado, exatamente, por aberrações nos campos das relações trabalhistas, resolvidas com a reforma aprovada nesta terça-feira pelo Senado, e também nos campos tributário e da previdência social, que igualmente aguardam por reformas estruturais.
Tudo de que o país precisa neste momento é de serenidade e bom senso que nos conduzam à estabilidade econômica, para que possamos retomar, de forma consistente, os caminhos do crescimento sustentado. Só assim teremos condições de propiciar à população condições dignas de vida, sobretudo aos 14 milhões que amargam a perda de seus empregos. É preciso coragem. E por esta razão é absolutamente necessário expressar o nosso reconhecimento aos parlamentares brasileiros, na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, que nos últimos meses aprovaram mudanças fundamentais para a retomada do crescimento da economia – a Lei da Terceirização e, agora, a reforma das relações trabalhistas.
É preciso seguir adiante, pois inúmeras outras reformas clamam por aprovação. Só assim seremos capazes de construir um Brasil único, forte em sua economia e justo na distribuição dos frutos do crescimento.
OLAVO MACHADO JUNIOR é presidente do Sitema FIEMG
“Tudo de que o país precisa neste momento é de serenidade e bom senso que nos conduzam à estabilidade econômica (…)”