Stefan Salej
O fechamento de 12 lojas da consagrada cadeia de eletrônicos e livros francesa FNAC no Brasil caiu para incautos como um raio durante as tempestades de verão. E a notícia que se propagou foi que o Brasil não é um país onde uma empresa tão consagrada, com quase 25 bilhões de reais de faturamento no mundo, possa sobreviver. Nas redes sociais e debates nos botequins da elite econômica, a notícia foi mais comentada do que a quebra da Sette Brasil, fabricante de sondas para perfuração de petróleo, que deu um prejuízotrilionário aos cofres já vazios do Estado brasileiro. Ou a da OI, companhia de telecomunicações, cuja quebra passou de 40 bilhões de reais. Ou a do setor elétrico, cujos números mudam todo dia e também passam de bilhões e bilhões.
Coitado do Brasil e dos brasileiros que não conseguem segurar uma FNAC, desde o ano passado associada a outro gigante de eletrodomésticos e eletrônicos franceses, Darty. A FNAC, fundada em 1954 na França, como uma espécie de cooperativa para vendas aos executivos, tinha um modelo de negócio que atraia o comprador. E ele incluía como a sua base funcionários especializados, bem treinados, que atendiam bem às necessidades, desejos e sonhos dos clientes. Além de seus preços atrativos. Mas o mundo mudou, apareceu a Amazon, o comércio eletrônico, os livros eletrônicos, streaming na música e o cliente também mudou. A FNAC entrou em uma crise que durou anos, nos quais abriu filiais no Brasil, até que depois de uma longa batalha de negócios conseguiu se juntar com a Ricardo Eletro francesa, a Darty. E agora as duas empresas já deram lucro e avançaram em vendas.
O Brasil ilude muito a empresa estrangeira. Um potencial enorme de mercado, mas concorrência feroz de empresas do mundo inteiro. E os impostos e a legislação trabalhista são complexos e altos. E às vezes os modelos de negócios que dão muito certo em outros países não dão certo aqui. A FNAC mudou e se adaptou na Franca, mas parece que a adaptação no Brasil não seguiu o mesmo ritmo. O mesmo aconteceu com a gigante de energia francesa EDF quando comprou Light no Rio de Janeiro e saiu do mercado. Ou então com a rede de hotéis Accor, que acaba, ao contrário da FNAC, de
anunciar que ampliou suas atividades no Brasil, incorporando mais 28 hotéis à suas rede de mais de 200 hotéis. Também empresa francesa.
Mas, para nossa alegria, continuam no mercado a Leitura, genuinamente mineira, a Cultura, em São Paulo, sempre melhor, a Livraria da Vila, e, apesar do lamentável desaparecimento da Livraria da Vinci no Rio, continua sempre o sucesso de Cia. De letras e outras editoras. Nem tudo acabou com a FNAC.
STEFAN SALEJ – Empresário
Ex Presidente do Sebrae Minas e da FIEMG- FEDERACAO DAS INDUSTRIAS DO ESTADO DE MINAS GERAIS