Com diálogo e a ajuda do Legislativo, do Judiciário, Ministério Público e Tribunal de Contas vamos encontrar uma forma mais justa, repartindo igualmente o pão’,
Romeu Zema, empresário e Governador de Minas Gerais
“Passamos por um momento que pede união”
Natural de Araxá, Romeu Zema, 54 anos, é pai de dois filhos. Formado em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas (SP), iniciou sua trajetória profissional bem cedo, aos 11 anos, seguindo os passos do pai. Foi cobrador, frentista, balconista, estoquista, caixa, comprador, vendedor, analista de marketing, analista comercial e gerente. Em 1991, assumiu o controle das Lojas Zema e foi responsável pelo expressivo desenvolvimento que levou a rede varejista de apenas quatro unidades em Minas Gerias para 430 lojas em vários estados. Apaixonado por gestão e desenvolvimento de pessoas, incentivou práticas que refletem na presença do Grupo Zema no ranking das “Melhores Empresas para se Trabalhar” há 15 anos, de acordo com pesquisas do Instituto Great Place to Work. Romeu Zema foi ainda membro do Conselho do Grupo Zema, composto por empresas que operam em cinco ramos: varejo de eletrodomésticos e móveis, distribuição de combustível, concessionárias de veículos, serviços financeiros e autopeças, empregando mais de 5 mil trabalhadores diretos e 1.500 indiretos. Em 2018, Romeu Zema decidiu enfrentar um novo desafio: candidatar-se ao Governo de Minas Gerais, por acreditar que com a experiência de gestor na iniciativa privada teria muito a contribuir na administração pública. De candidato praticamente desconhecido, Zema foi eleito com 72% dos votos, quando fez campanha sem uso de fundo partidário ou eleitoral. Ao assumir o cargo de governador, Zema deparou-se com uma situação ainda pior do que a esperada no quesito contas públicas: despesas herdadas da administração anterior e não pagas da ordem de R$34,5 bilhões e um orçamento deficitário em R$15,1 bilhões em 2019 e, previsão de déficit para este ano, em função das perdas de arrecadação de impostos, de R$20bilhões. Com determinação, empenho e criatividade Romeu Zema vem enfrentando o caos financeiro do Estado, tomando medidas austeras e inovadoras para recolocar Minas Gerais nos trilhos, como a criação do COSUD – Consórcio de Integração Sul e Sudeste, no qual os sete Estados das duas regiões debatem pautas conjuntas entre as federações, que hoje somam o maior Produto Interno Bruto (PIB) do país. Foi responsável, em 2019, pela atração recorde em protocolos de intenção para a ampliação ou instalação de investimentos e empresas no Estado, no valor de R$55,9 bilhões. E, neste ano, já atraiu, mesmo com todo o cenário de retração econômica, mais de R$4 bilhões em investimentos e perspectiva de geração de mais de 2,3 mil empregos diretos.
Segue, na íntegra, a entrevista exclusiva para a “Rede de Notícias do Sindijori MG”:
P – Governador, não é novidade que o Estado de Minas Gerais vive uma de suas piores crises financeiras, agora muito agravada pela pandemia da covid-19. O senhor conclamou os demais poderes do Estado, Legislativo e Judiciário, para compartilhar as consequências nefastas do momento. O que o levou a tanto?
Zema – A necessidade de compartilhar a responsabilidade com todos os Poderes em Minas Gerais me levou a isso. Porque não é justo que apenas um arque com as consequências desse cenário caótico, que se deteriorou ainda mais com a pandemia do coronavírus. Nós vamos ter que achar uma forma de dividir três pães para cinco pessoas, porque hoje, do jeito que está, três recebem e dois morrem de fome. Com diálogo e a ajuda do Legislativo, do Judiciário, Ministério Público e Tribunal de Contas vamos encontrar uma forma mais justa, repartindo igualmente o pão entre as cinco pessoas. Vale lembrar que só conseguimos fechar as contas do Estado, em abril, devido ao recebimento extraordinário de R$782 milhões de um crédito do antigo Banco do Estado de Minas Gerais (Bemge). E, neste mês, conseguimos fechar as contas, inclusive o repasse dos duodécimos e o pagamento do 13º do restante do funcionalismo, devido a um depósito feito no dia 20 de maio, pela empresa Vale, no valor de R$1 bilhão, referente a indenizações pela tragédia de Brumadinho.
P – O senhor não teme retaliações por parte da Assembleia Legislativa, do Tribunal de Justiça e, principalmente, do Ministério Público, decorrentes de sua atitude de chamá-los à responsabilidade?
Zema – De maneira alguma. Os Poderes em Minas Gerais estão alinhados para atravessar esse momento de crise com o objetivo de salvar vidas. Na quinta-feira, 21, fizemos uma reunião no Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG) com os representantes do Legislativo, do Judiciário, Ministério Público e Tribunal de Contas para mostrar a complicada situação financeira que já atravessávamos e que piorou muito por causa da pandemia. Posso afirmar que existe um alinhamento concreto no nosso Estado.
P – A que o senhor reputa o fato de até o presente momento o Palácio do Governo não contar com base sólida no parlamento estadual? É também em razão de sua coragem de não lotear o governo com os políticos e seus indicados?
Zema – O partido pelo qual fui eleito, o Novo, é muito recente na política. Conseguimos, por exemplo, eleger três deputados: o Bartô, o Guilherme da Cunha e a Laura Serrano. O secretário de Governo Igor Eto, também, tem feito um ótimo trabalho na Assembleia e a tendência é a de que esse relacionamento fique melhor a cada dia.
P – O senhor é antes de tudo um comerciante, um homem de negócios. Como o senhor avalia o desprezo de alguns de seus colegas governadores, mas também de muitos prefeitos de Minas Gerais, com a manutenção de empregos e renda da população determinando fechamentos, isolamentos e confinamentos com objetivos exclusivamente políticos de desestabilizar o Presidente Jair Bolsonaro?
Zema – Eu estou como governador de um estado que precisa muito do meu trabalho, das soluções que a minha gestão desenvolve e implementa. Não cabe a mim criticar o governo federal, outros governadores ou os prefeitos, que têm autonomia para conduzir a situação em suas regiões. Passamos por um momento que pede união, sensatez, serenidade e muito trabalho. Quem quiser trabalhar por Minas Gerais e pelo nosso povo, sempre será meu aliado. Aqui, lançamos o programa Minas Consciente, que proporciona ao prefeito uma abertura segura e gradual das atividades econômicas. Lembro aqui que Minas é o segundo Estado com menor letalidade por covid no país. Lamento muito as mortes. Mas temos tomado medidas eficazes, que nos proporcionam o lançamento de protocolos sanitários que vão orientar os prefeitos na decisão de reabrir.
P – Em geral, os ardorosos defensores dos isolamentos completos e confinamentos, além dos políticos adversários do Presidente da República, são os servidores públicos, principalmente os do Judiciário, Ministério Público e Defensoria Pública. Seria isso justamente porque têm seus salários garantidos e estabilidade nos seus empregos?
Zema – Eu creio que, neste momento, precisamos tomar todas as medidas para preservar a vida humana. É necessário, também, criarmos soluções para que a crise financeira não afete tanto a vida dos mineiros, porque sabemos que irá. Por isso, criamos o programa Minas Consciente, que analisa semanalmente a evolução da doença nas 14 macrorregiões de Saúde de Minas e orienta os municípios sobre a retomada das atividades econômicas do jeito certo e seguro. De forma responsável, seguindo protocolos sanitários desenvolvidos pela Secretaria de Estado da Saúde, o objetivo é retomar a economia gradualmente. Quanto aos servidores públicos do Judiciário, não tenho como falar se são contra ou a favor do isolamento.
P – O senhor venceu as eleições com uma agenda de austeridade fiscal, amplas privatizações de empresas estatais e eliminação de cabides de emprego. Para quando o povo de Minas Gerais pode esperar o cumprimento destes compromissos de campanha?
Zema – Desde que assumi o mandato como governador, temos trabalhado dessa forma. Reduzi, por exemplo, de 21 para 12 o número de secretarias, cortei cargos e gastos desnecessários. Os aviões de uso exclusivo do governador é outro bom exemplo. Além de vender aeronaves, destinei as da frota atual para o transporte de órgãos. Só no ano passado tivemos um crescimento de 42% no número de transplantes, o que rendeu a Minas um prêmio nacional do Ministério da Saúde. Já a privatização de empresas, precisamos aguardar essa crise mundial por causa do coronavírus passar. Neste momento, ninguém tem dinheiro para grandes investimentos. Mas no início do mês passado, eu fui a Brasília e ofereci ao presidente Bolsonaro a compra dos royalties do nióbio para equilibrar as contas de Minas. Creio que precisamos aguardar.
P – Seus antecessores, do PT e do PSDB, Fernando Pimentel, Antonio Anastasia e Aécio Neves, dedicaram seus governos a pilhar o Estado, inchar a máquina pública e comprometer as finanças públicas com dívidas e obras faraônicas. Como pode ser resumido o jeito NOVO de governar, discurso que lhe deu vitória nas Eleições 2018?
Zema – O jeito novo de governar é com muito trabalho e é isso que estamos fazendo. Neste momento, temos um inimigo invisível a ser vencido, o coronavírus, e precisamos que todos estejam unidos contra ele.
P – O senhor é cobrado pelos servidores da Educação, que reivindicam sempre melhorias nos salários. Sobre este assunto o que tem a dizer?
Zema – O Estado enfrenta a mais severa crise fiscal da sua história. Temos feitos todos os esforços possíveis para conseguir pagar o funcionalismo. Eu gostaria muito de dar aumento para os professores e todas outras categorias. Mas, infelizmente a realidade não permite. Inclusive, em reunião com o presidente Jair Bolsonaro, na quinta-feira, 21, foi acertado que ele sancionaria o Projeto de Lei Complementar 149/2019, em que congela por 18 meses o aumento de salário dos servidores públicos. Os fatos são esses: Minas está quebrada. Temos que reestruturar o Estado.
P – As universidades públicas de todo país estão paralisadas. Mas, alunos e até mesmo alguns professores estão cobrando o retorno das aulas da Universidade Estadual de Minas Gerais (Uemg), instituição que tem vários campi. Mesmo que em sistema EAD, o que estes mais de 21 mil alunos podem esperar?
Zema – Estamos fazendo o possível para não prejudicar o ano letivo, seja para o ensino fundamental, médio ou superior. Criamos o Regime de Estudo não Presencial nas escolas públicas de Minas e o projeto tem tido boa repercussão. Só no primeiro dia, mais de 700 mil pessoas acompanharam a teleaula. Já para a Uemg, as aulas ainda estão suspensas, mas alunos, professores e servidores estão desenvolvendo diversas atividades.
P – Como várias cidades mineiras ficam nas divisas com outros estados onde a proliferação do coronavírus é maior, como é o caso da Bahia, São Paulo, Espírito Santo e Rio de Janeiro, o Estado não deveria dar uma atenção especial, como barreiras, para dar mais proteção à população?
Zema – Minas Gerais é um dos Estados que agiu preventivamente para o enfrentamento à covid-19. Compramos equipamento de proteção individual (EPI), construímos o Hospital de Campanha mais barato do país, investimos em mais 1047 respiradores, totalizando 4654. Recuperamos, do interior do Estado, para manutenção, 428 aparelhos e 85 já estão sendo enviados para os locais de origem para o combate ao coronavírus. Também estamos em primeiro lugar no ranking de transparência de informações da covid-19. As medidas de isolamento social e de distanciamento adotadas pelo Estado, um dos primeiros do país a agir contra o aumento do contágio da doença, fizeram com que Minas Gerais apresentasse um dos menores indicadores de letalidade do país. O Estado apresenta a 2ª menor taxa de óbitos por 100.000 habitantes, considerando o país como um todo. Hoje, 22, por exemplo, a taxa de ocupação de leitos no Estado é de quase 70%, sendo 7,28% para leitos de UTI destinados a pacientes infectados. Ainda trabalhamos preventivamente. E temos ainda o Hospital de Campanha com 768 leitos (740 de enfermaria e 28 de estabilização). Também fizemos uma parceria com o Mater Dei Betim para mais 58 vagas de UTI. O que tivermos de fazer para o enfrentamento a essa doença, não mediremos esforços.
P – Com o pagamento do 13º sendo liberado com seis meses de atraso, como o governo está se planejando para pagar as dívidas mais recentes?
Zema – Temos recursos para receber do governo federal, mas são insuficientes para cobrir o rombo que teremos que, só neste mês, deve chegar a R$2 bilhões. Os recursos da União devem ser depositados em quatro parcelas: junho, julho, agosto e setembro, no valor de R$748 milhões cada. Os valores ainda não têm data certa para chegar aos nossos cofres. Algumas ações como o acordo fechado com os Poderes, referente ao repasse dos duodécimos, já é uma medida bastante positiva. A nossa expectativa é, gradualmente, retomar a economia de forma consciente e responsável em todas as regiões de Minas Gerais. Dessa forma, vamos conseguir diminuir os efeitos dessa crise, porque vai passar. É importante falar também que antes dessa pandemia o servidor já tinha previsão de data para recebimento do salário, ao contrário do que acontecia na gestão anterior. Contamos com o apoio da Assembleia de Minas para aprovar a Reforma da Previdência de Minas, que é de extrema importância para o ajuste fiscal. Para se ter ideia da gravidade da crise que passamos, entre os anos 2014 e 2018, as despesas cresceram 36,4% e as receitas, 25,1%.
P – Minas conseguiu comprar respiradores por um preço baixo em comparação aos outros estados. Existe previsão de novos investimentos em equipamentos importantes para o enfrentamento da covid-19?
Zema – Realmente. Conseguimos comprar 1.047 respiradores por um preço médio bem abaixo do obtido por outros estados. E vale lembrar que não gastamos nem um centavo para comprá-los. Pedimos à Justiça que as empresas Samarco e Vale arcassem com a despesa. Com autorização judicial, conseguimos efetivar a compra. Por isso, Minas tem caminhado bem no enfrentamento à covid. Gostaria de ressaltar que nosso esforço soma-se a compreensão dos mineiros. Vamos ter paciência. Dias melhores virão.