A ablação por cateter de substratos arritmogênico é uma terapia útil principalmente nos casos de mais difícil controle | Foto: Shuttrstock
Uma palpitação pode significar várias coisas diferentes. Um sinal de paixão, uma abordagem inesperada que causa susto, uma descarga de adrenalina depois de uma atividade física, um momento de ansiedade. Mas, para Romildo, uma palpitação era um grande sinal de alerta, quase um filme de terror na vida real.
Desde 2017, Romildo José, de 54 anos, foi diagnosticado com Síndrome de Brugada, uma doença perigosa que aumenta o risco de morte súbita em pessoas jovens. “A doença provoca muito estresse, porque você nunca sabe quando vai ter um episódio. Então, qualquer palpitação, você já imagina que vai desmaiar ou ter um ataque, o que faz com que você esteja o tempo todo convivendo com ansiedade, o medo de acontecer novamente. Não é fácil”.
No último mês, o paciente da Hapvida NotreDame Intermédica recebeu a chance de uma vida com mais qualidade. Desde as últimas semanas de 2022, ele vinha apresentando diversos episódios de paradas cardíacas tratadas com a liberação de choques que chegaram a somar 10 em um único dia. Diante deste cenário, o paciente foi a primeira pessoa no Norte/Nordeste a ser submetida ao procedimento de ablação epicárdica por cateter de substrato arritmogênico para tratamento da Síndrome de Brugada, um procedimento cardiológico inovador.
A síndrome
A Síndrome de Brugada (SB) é uma doença rara grave com alto potencial de letalidade. No mundo, a prevalência é de 5 a 20 casos a cada 10 mil habitantes, atingindo principalmente homens. Os pacientes acometidos por esta condição são submetidos a um tratamento que pode causar estresse físico e emocional, pois é implantado um cardiodesfibrilador que, apesar de salvar a vida dos que o utilizam, causa grande incômodo com choques.
“A doença é uma condição genética que acontece por conta de defeitos na membrana celular. Os pacientes podem apresentar eventos graves com quadro de desmaio, muitas vezes, sem uma causa explicada, algo que ocorre subitamente e que pode evoluir para uma parada cardiorespiratória, a ponto do paciente ter que ser reanimado ou até mesmo levar a uma morte súbita. A primeira manifestação clínica da doença já pode ser uma morte súbita e por isso, o problema é tão delicado”, explica o cardiologista do Hapvida NotreDame Intermédica, André Rezende, especialista em arritmias e eletrofisiologia cardíaca.
Um tratamento inovador
Diante do cenário de repetições dos episódios de fibrilação ventricular, o paciente que já possuía o implante do cardiodesfibrilador, um aparelho implantado entre a pele e o músculo do peito que age rapidamente logo quando o coração para de bater, teve seus primeiros acompanhamentos e procedimentos em Recife e foi encaminhado até o Centro Hemodinâmico do Hospital Antônio Prudente, em Fortaleza, para que fosse realizada uma ablação de substratos arritmogênicos da Síndrome de Brugada.
“Desde o ano passado, Romildo começou a ter choques de repetição, que a gente chama de tempestade elétrica, quando tem mais de três eventos em um prazo de 24h e, com esses choques, ele foi obrigado a se internar para tentar o controle. Utilizamos o manejo de drogas na tentativa de monitorar o quadro clínico, mas, sempre que recebia alta, pouco tempo depois, apresentava o mesmo evento. Foram três internações em um período muito curto, com vários choques, chegando a perder a consciência em algum deles. Por causa dessa repetição, caracterizamos a situação de refratariedade clínica, ou seja, nenhum medicamento estava sendo suficiente para controlar este quadro. Por isso, foi indicada a cirurgia”, explica o cardiologista André Rezende.
“A melhor forma de reduzir as chances de uma morte súbita é com o implante de um cardiodesfibrilador. Entretanto, o aparelho não impede o aparecimento de arritmias e a terapia com choques é extremamente desconfortável. Por isso, a escolha por um tratamento inovador e ainda muito incipiente no Brasil, a ablação por cateter de substratos arritmogênico, que é uma terapia útil principalmente nos casos de mais difícil controle”, explica o médico responsável pelo caso, Ronaldo Távora, arritmologista do Hapvida NotreDame Intermédica.
“Sigo esperançoso”
No mês de fevereiro, a nova abordagem foi realizada com excelente execução e o resultado satisfatório. Após acompanhamento no hospital, Romildo recebeu alta e segue em casa, se recuperando da cirurgia. Desde então, não teve novos episódios, sem desmaios ou desconfortos.
“O atendimento foi muito bom, com uma equipe segura. Estou confiante com a resposta do procedimento cirúrgico. Agora, volto a ser acompanhado pelo médico André Rezende, que realizou o acompanhamento desde que tive a repetição de desmaios, no final do ano passado. Sigo esperançoso”, afirma o paciente.
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Érica Magalhães
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