Me atrevo a fazer uma definição muito particular de “pets”. Para mim são seres configurados ao longo do tempo, a partir de um cruzamento entre animais e humanos. Essas criaturas têm características fisiológicas de animais de quatro patas, pelos, respiração, digestão, porém, no cruzamento com gente, creio que a integração maior na sua genética diz respeito aos hábitos e emoções. Pets dormem em camas de humanos, usam agasalhos e cobertas nos dias frios, apesar do seu couro e pelo já existirem para isso. Pets só comem ração e, se tiverem algum problema digestivo, produtos apropriados. Fazem checkup, frequentam creches, passeiam nos parques usando roupinhas, laços e até joias. Pets não falam, mas expressam suas emoções e desejos, que são facilmente interpretados por seus donos, aliás, seus tutores, porque nesse mundo ninguém deve ser dono de ninguém e isso serve para filhos, esposas, patrões, escravos, mas isso é outra história. Pets fazem cara feia, ficam “de mal”, expressam alegria, fazem até carinhas que lembram sorrisos. Pets pedem para passear, para ir dormir, acordam seus donos, aliás, seus familiares, na hora certa. Pets também optam pela vida nômade, encontramos muitos pelas estradas. Arrisco dizer que, na maioria das casinhas sobre rodas pelas quais cruzamos, moram um casal e seus pets.

Quase a totalidade são cães e gatos. Já vimos iguana e hamster vivendo na estrada, até uma galinha, mas a maioria é de cães e gatos mesmo e mais cães do que gatos. Eles devem ter participado da decisão familiar de passarem a viver na estrada, afinal, ninguém é dono de ninguém, são parte da família e precisam ser ouvidos. Uma vez encontramos um Motorhome que foi construído com janelas adaptadas e arranhadores para sete gatos que moram com seus donos, ou seus tutores, ou seus pais, já não sei mais. Os pets têm suas caminhas, pratinhos de comida e água, harmoniosamente colocados nas minúsculas casinhas. Passeiam nos parques, seus quintais, fazem xixi e cocô na rua com hora programada. Os gatos andam de coleira, o que me gera aflição, não podem correr pelos telhados, o que, para mim, seria da natureza dos gatos, porém, não posso esquecer que não são apenas gatos, são pets. Os cães enormes vivendo em espaços minúsculos me afligem também. Parece que sou uma pessoa aflita com bichos tendo hábitos de gente, mas tenho que me acalmar, não entendo mesmo de pets. Já cruzamos com um casal de idosos vivendo com dois dobermanns imensos numa van pequena, como também um casal de jovens artesãos que moram em um carro de passeio, com dois vira latas grandes. Não tenho noção como se acomodam no dia a dia. Acho que nas estradas prefiro conviver com os vira latas caramelo, que existem em todas as praças e ruas por onde moramos. Eles pedem comida, carinho, fazem companhia, se fazem entender naturalmente, sem terem recebido nenhum treinamento. Comem sobras de comida, descansam debaixo de nossa casinha. Quando seguimos, eles continuam por ali, na rua, cheios de amigos. E cada um segue seu rumo, vivendo do seu jeito. Nós, gente de vida nômade. Eles, cachorros de rua. Afinal, são só cachorros, não são pets!















Gosto muito de cachorros, são amorosos e principalmente amigos, mas não me vejo morando com um em nossa casinha, convivemos com muitos em nossas andanças….