Muitas cidades têm um parque, às vezes público, às vezes privado, áreas amplas, frequentados pela população local e por viajantes também. São comuns parques remodelados tendo, além do espaço de lazer com brinquedos infantis e academia de rua, todo o tipo de atividade, feiras, pistas de caminhada com marcação de quilometragem, quadras de esportes e tal. Atualmente os parques viraram moda como cenário para ensaios fotográficos e festas de aniversário. Nos parques há sempre o servidor público, normalmente funcionário da prefeitura, que é o responsável pela manutenção do parque. Varre os passeios, limpa os banheiros, providencia conserto dos equipamentos quando necessário. Sua função principal é o cuidado com os jardins, o que faz há muito tempo. Conhece cada planta, plantou várias que hoje já fazem sombra e dão flores. O jardineiro conhece cada canto, fala dos espaços como se fossem somente seus, se mostra incomodado com o mau uso do seu parque. Ele é o dono do parque, tem destaque naquele espaço! Talvez não tenha desenvolvido a devida noção do que seja a coisa pública.
A conversa com o jardineiro gira em torno de como era o parque antes dele, o que ele plantou, o que ele arrumou e o que já foi destruído por ali. Fala com propriedade, sabe tudo daquele lugar e isso lhe dá certo poder sobre o parque. Pequenos poderes cotidianos: ele tem a chave dos banheiros e do cadeado da caixa de energia, controla o registro da torneira que serve para aguar os jardins. Quem tem algum tipo de atividade no parque como alguma banca ou festa, tem que recorrer ao dono do parque. Pequenos poderes! Talvez essa seja uma compensação pela sua vida pobre, de trabalho, que, talvez, seja só trabalho. O prefeito ou algum vereador de vez em quando passa por ali e lhe dá um abraço, faz um elogio ao seu jardim. Conta isso com orgulho, se sentindo valorizado.
Na verdade, desde sempre, depois do abraço dos políticos, ele continua no seu parque, varrendo, cuidando, orientando os usuários, reclamando do mau uso do seu espaço. Sua vida segue assim, sempre igual, trabalhando muito e mal remunerado. Mas ele tem o seu parque e sua maior recompensa são as flores que nascem lindas em função do seu trabalho na terra. E lá vem as crianças para brincar, correr, pouco obedecendo ao chamado dos pais. E lá vem as madames fazendo suas caminhadas com seus leggings marcando seus corpos delineados e desfilando seus tênis de grife. E lá vem os fortões correndo, fazendo exercícios nas pequenas barras que tem ali. Conversam sobre performance física e suas vidas saudáveis. Talvez nem tanto porque muitas musculaturas que desfilam no parque são moldadas por proteínas e suplementos que de saudáveis não têm nada.

Eu vivencio o parque e não perco de vista o seu dono. Não me arrisco a ficar sem acesso à torneira ou ao quadro de energia, o que ele gerencia com rigor. Eu obedeço de forma disciplinada ao dono do parque. Peço permissão para tudo, valorizo seu trabalho, me solidarizo com a sua indignação com os usuários, mesmo não concordando às vezes. O pobre trabalhador precisa se sentir “o dono do parque” para sobreviver, para seguir adiante, para aumentar a sua autoestima. Ele é o dono do parque. É a sua fantasia…todos nós temos as nossas. Eu sigo adiante com as minhas…














O “dono do parque” tem um pequeno poder, com certeza! Mas é também o “poderoso” que está mais perto das pessoas que tem o benefício de um cuidador preocupado… Ótima reflexão!
Né? O pequeno poder dele nos proporciona um lugar aprazível!
Cuidadores….Precisamos valorizar essas pessoas…não só com tapinha nas costas…mas simplesmente cuidando também…o que nos compete…
Procuro fazer essas trocas por onde passo…
Quem dera todos os parques tivessem um dono assim e que não fosse prefeitos que insistem em privatizar esses espaços públicos.
Verdade! Muitos espaços públicos sendo privatizados! Uma pena…
Elida tem um olhar detalhista, não escreve, desenha com letras, frases e versos! Parece que eu estava vendo o dono do parque, o parque e seus passantes. Elida nos traz essas observações tão cheias de humanidades – do tipo humano que desejamos! – que estamos certamente viajando juntos…
Que lindo comentário! Fico honrada! Obrigada!
Este“ O Dono do Parque “que está no texto, é bem responsável!
Elogia seus cuidados e gosta de ser respeitado, com razão .
Gosto muito de parques bem cuidados , sou fã de quem ajuda cuidar deles!
Já sei que tu também és fã deles
Muito legal!!! Tema simples que desperta em nós a realidade de algumas pessoas. Forte abraço
Que bom que gostaste! E sigamos juntas aqui no Exempplar!
Sou mesmo! Adoro conversar com os donos dos parques onde moro por aí…
Convivemos com muitos “Dono do Parque”, poderia nomear alguns, mas vou deixa-los no anonimato.
Já treinamos em muitos parques Brasil a fora!
Muitos, espero que venham outros.
Muuuuuitos mesmo!
O que mais me toca é o jardineiro… ele pode não ter título nem reconhecimento, mas é quem dá alma ao parque. Cada árvore, cada flor carrega a marca do seu cuidado. No fundo, ele é o verdadeiro dono daquele espaço.
É como ele se sente. É como o considero!
A gente sempre prefere os parques que tenham um “dono”. São mais cuidados e a gente tem pra quem pedir licença.
Os nômades entendem bem nossa relação com o dono do parque!
Muito boa a crônica, o “dono” do parque faz com que tenhamos um lugar agradável para as nossas práticas físicas e favorece nossa higiene mental com lindas árvores e flores!!! Parabéns Elida!!!
Obrigada! Sigamos juntas aqui no Exempplar também..
Obrigada! Sigamos juntas aqui no Exempplar também…
Os parques sempre nos trazem ótimas lembranças! Os “donos” merecem nosso respeito.
Estão sempre lá nos atendendo!
Atualmente, vejo muitos parques bem cuidados, que despertam a vontade de frequenta-los, sentar nos bancos, tomar sol, sentir o cheiro das arvores vo perfume das flores, caminhar e, até mesmo, observar os frequentadores: quem são, o que fazem e quanto tempo ficam … Os parques representam um pedacinho da nossa história e estabelecem elos significativos entre os diferentes ciclos de vida.
Obrigada pelo comentário delicado! Os parques são isso mesmo…
Quando visito lugares por aí, sempre as praças são o que me chamam atenção de uma maneira mais atenta! Penso que, quando a praça, o parque e os lugares públicos estão organizados, limpos e floridos, o resto com certeza deve funcionar bem! Imagino que nessa cidade vivam pessoas alegres, com amor e respeito ao próximo! Tipo aquelas pinturas de quadros do século 19/20… Kkkkk…. Deixo minha imaginação fluir, e até vejo o jardineiro, com aquelas calças curtas, com seus suspensórios, cantarolando! Assim é minha imaginação, pois na realidade, sei que a modernidade, a pressa do fazer, a pressa do abraço e o respeito ao próximo, principalmente aos que ficam por trás dos bastidores, estão casa vez mais no passado do que no dia dia!
Que bom que a crônica te provocou reflexão! Obrigada pelo comentário!
Talvez todos/as nós devêssemos nos sentir ” donos do parque” e nos sentir mais responsáveis pela cousa pública. Não no sentido de posse mas de cuidado, respeito e solidariedade. Obrigada pelo belo texto.
Verdade. Vemos muita irresponsabilidade com a coisa pública por aí!
Muito bom texto e boa reflexão Élida. Me preocupo muito com tua observação sobre a compensação dessas pessoas por terem salários irrisórios e condições muito difíceis de vida, na maioria. Nossos municípios e nosso país deveriam ser mais generosos com os “donos do parque”, como com os funcionários públicos em geral.
E a situação piora com a terceirização! Servidor público valorizado faz toda a diferença!
‘O DONO DO PARQUE” foi tão bem descrito que parecia que eu estáva vendo o local. Seria muito bom se em todas as cidades tivesse um parque assim e alguém para tomar conta, mas que fosse remunerado. Na Europa em vários países existe banheiro público bem cuidado, e o usuário paga uma pequena taxa para usar.Eu acho que seria uma boa ,parques dessa natureza com alguém tomando conta como se fosse dono.
Bom seria se todos nos sentíssemos e agissemos como donos dos parques, não é?
O dono do parque, um micro poder cotidiana que cresce, que se agiganta e se torna macro à medida em que ele se empodera do seu valor pela sua contribuição ao embelezamento do parque, pelo reconhecimento e atenção que recebe e à vida das pessoas. Um parque limpo, florido, bonito…faz bem a alma. Bjo
É valoroso mesmo o dono do parque!
Sua maior recompensa são as flores que nascem lindas em função do seu trabalho na terra.
E isso é sublime!