Em algum ponto no tempo, estivemos na estrada por 6 meses, dessa vez resolvemos morar no Sul, depois no Sudeste e adiante, no Centro-Oeste. Sempre temos um roteiro de moradas que serve para nortear o caminho da nossa casinha, porém, o tal roteiro pode ser mudado, conforme as situações que vamos encontrando pela estrada. Nunca tivemos que desviar totalmente do que estabelecemos, o que mudou até agora foi o tempo a ficar em algum lugar. Às vezes, escolhemos alguma cidadezinha para pernoitar e acabamos morando ali por uma semana ou mais. Outras vezes, planejamos morar por uns 15 dias em algum lugar, porém, as condições que encontramos não são aquelas que imaginávamos, seguimos adiante. Em todos os lugares por onde passamos por esse brasilzão de meu Deus, observamos muito a paisagem. Conforme nossa casinha desliza pelas estradas, a paisagem ao redor vai mudando. E como muda! Olhando pela janela é possível ver a vegetação, se nativa ou plantada, as águas de rios, mar, córregos, arroios, montanhas com sinais de mineração. As lavouras, as plantações, tudo o que vemos nos dá a ideia da economia local. Grandes fazendas, pequenos sítios, áreas vastas de pastagem, produção de hortifrutigranjeiros. Tenho o hábito de pesquisar na internet sobre as cidades por onde passamos, mesmo aquelas em que não paramos. Encontro no Google as informações básicas sobre as cidades e…bingo! Normalmente a ideia que tínhamos sobre o local, observando seu entorno, se confirma. A organização política do município, a demografia, a organização administrativa, tudo dá ideia de como é a vida local. Os serviços oferecidos, as políticas públicas existentes, tudo configura a vida de uma população. Estudei e trabalhei com gestão pública, adoro vivenciar os locais e perceber como a vida se estabelece em cada um deles. E tudo se encaixa. O bate-papo na praça com os moradores locais reflete a paisagem que vimos na estrada. Chamam-me atenção as áreas desmatadas. No centro-oeste é possível viajar por centenas de quilômetros, onde a visão só encontra chão e céu. Área lavrada para a cultura extensiva da soja ou pastagens que iniciam na ponta do meu nariz e terminam só no horizonte. No Nordeste ocorre o mesmo com os canaviais. Em São Paulo, as grandes indústrias, os grandes depósitos convivem lado a lado por muitos quilômetros. Em Minas são as áreas devastadas pela mineração, montanhas e montanhas recortadas pelas explosões e um mar de grandes caminhões de transporte prá lá e prá cá. Em todos esses cenários há um ponto comum, o desmatamento. Não tenho a pretensão de discutir problemas ambientais, muito menos modelos de desenvolvimento. Neste momento meu interesse é egóico, superficial, eu sei. É que nesses cenários, não há lugar para pararmos para almoçar. Não foram poucas as vezes em que rodamos por centenas de quilômetros procurando uma sombra para abrirmos nossa casinha, fazermos comida e tirarmos um cochilo depois. Simplesmente não encontramos.

Nenhuma árvore para nos abrigar. Não pensem que falo sobre árvores frondosas, mangueiras, amendoeiras, nada disso. Qualquer miserável sombra de uma árvore solitária pelo caminho já bastaria, mas não tem. Talvez pensem que exagero, mas não! A fome diminui a exigência quanto à qualidade da sombra, conforme a estrada avança. E nada. Somente a sombra de um paredão de um posto de combustível ou de um grande depósito. Cruzes! Nesses, a sombra é mais quente do que ficar sob o sol. Resolvemos seguir comendo algum petisco, que sempre temos por perto, até que consigamos cozinhar, depois do pôr do sol. E cadê as árvores? Para segurarem o solo encharcado da chuva, para liberarem oxigênio no ar, para regularem o ciclo da água no ambiente. Cadê uma árvore para eu poder cozinhar sob o seu ar fresco? Não há, foram arrancadas para dar lugar às pastagens e à agricultura extensiva. Seguimos procurando um lugar para parar e eu sigo pesquisando na Internet. Vejo notícias de tornados, desabamentos de montanhas, inundações devastadoras, secas mortíferas…não quero saber disso, não tem importância (#contém ironia). Só quero parar para comer, mas…cadê as árvores?














Esta é a realidade de grande parte dos municípios por onde passamos, seguimos trilhando vida….
Excelente constatação Gilberto… mas uma coisa é garantida junto a estas enormes áreas plantadas, é a qualidade do asfalto … condição essencial para a exportação de grãos e chegada de insumos.
Sim…em áreas de grandes fazendas há sempre obras de restauração do asfalto!
Árvores são sinônimo de vida. Felizmente trabalho e moro cercado de uma floresta aqui na Tijuca.
Que privilégio!
Aqui em Porto Alegre sentimos na carne…ou melhor…na seiva…o desmatamento por este gestor municipal que inclusive se reelegeu…vide o.parque da harnonia e o terreno ao lado do jardim botânico…onde foram dizimadas 10000 árvores
Porto Alegre é um triste exemplo!
É uma triste constatação, desmatamento desordenado, mesmo para plantações, sem preservar um pedaço sequer da mata, de arvores que possam, ofertar sombras. É muito triste, ficarmos cada vez mais sem o verde de nossas matas.
O cenário é devastador…
Vocês sim que são dois privilegiados . Sem árvores para jantar mas dentro da casinha a procurar uma árvore que não precisa ser frondosa apenas uma árvore.
Parabéns Elida.