STEFAN SALEJ
Há trinta anos houve um grande movimento para separar o Triângulo Mineiro de Minas Gerais e formar um estado próprio. O movimento contra a divisão de Minas foi liderado por entidades empresariais, notadamente pela centenária e respeitada Associação Comercial de Minas, na época dirigida por Lúcio Assumpção. A divisão territorial de Minas não vingou. As más línguas dizem que também no Triangulo não chegaram à conclusão sobre onde seria a capital do novo estado. A tradicional rivalidade entre Uberaba e Uberlândia levava a capital para Araguari, o que também ninguém queria. Mas, o fato histórico mesmo foi o receio de divisão de outros estados, como o Pará, onde o distrito mineral de Carajás queria se separar, e assim o Congresso Nacional votou contra. A unidade de Minas foi salva. Foi mesmo?
Hoje continua a divisão. O Triângulo continua a mais próspera das regiões de Minas e permanece distante do egocentrismo da capital. Até os vôos para São Paulo, de Uberlândia, têm muita, mas muito mais frequência, do que os para Belo Horizonte. A qualidade de vida e a pujança econômica da região em todos os sentidos fazem o Triângulo ser a locomotiva de Minas e não o contrário. O Triângulo também é a capital internacional, não só de genética de gado, em Uberaba, como também a sede da empresa de telecomunicações mineira, Algar. E mais e mais histórias de sucesso, além de um padrão de vida superior ao resto de Minas. E tem em suas empresas de logística o elo de integração nacional.
Minas unida é Minas mais forte. Mas, Minas precisa ser também integrada. Talvez a idéia pouco convencional do Presidente da CODEMIG de integrar Minas através de ligação aérea seja ousada demais para os mineiros de hoje, mas o fato é que a economia mineira não é integrada. O nosso polo de integração e desenvolvimento se chama São Paulo, que detém inclusive mais de 75 % do comando da economia mineira. Uma dúzia de empresas bem sucedidas mineiras não são suficientes para desenvolver a economia do Estado. E a nossa aliança com a economia paulista precisa ser mais do que intenção, precisamos ter políticas comuns de desenvolvimento.
Mas, a independência e a integração de Minas ao Brasil também passam pela área politica. Os políticos, especialmente nordestinos, temem Minas forte e, como foi no caso recente da candidatura de Márcio Lacerda, intervêm de forma abusada na política de Minas. Aí sim que a nossa interdependência de unidade federativa fica ameaçada. Se os políticos de Minas têm que se submeter a decisões corporativas regionais do Nordeste e interesses ideológicos de partidos políticos adversos aos interesses de Minas, temos um problema de identidade de Minas e de seu futuro. Minas não se humilha, não se curva, e Minas só pode ser parte integrante do Brasil. Então a lição do Triângulo fica não para a história, mas para o futuro.
STEFAN SALEJ, consultor empresarial, foi presidente do Sistema Fiemg e Sebrae MG.
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