Stefan Salej
Milhares de alunos do pré-primário à universidade voltam às aulas nesta semana. No meio deles haverá também os calouros, que estão entrando nas faculdades, e também um contingente de milhares que concluíram o curso superior no meio do ano a procurar emprego. E como a prioridade número um dos nossos dirigentes políticos em todos os níveis é a educação, não custa falar, no meio do ano, no ambiente político tão desagradável que estamos vivendo, um pouco de educação.
Alias, poderíamos iniciar esta conversa pela educação básica, que não se adquire nas escolas, mas no convívio familiar e no círculo que se vive. Sempre os idosos acharam que os bons modos das gerações mais novas eram mal educados. E agora não é diferente. Expressões como Senhor e Senhora, que substituem o formal Vós no original da língua portuguesa, desapareceram. Hoje todos somos “ocê”, acompanhado com um Oi, sendo que o bom dia ou tarde já se foi para a estratosfera. Criou-se uma informalidade, não no linguajar, mas no comportamento, que nos coloca todos num saco só, sem distinção de idade, conhecimento, respeito ou qualquer esforço de mantermos uma distância hierárquica muitas vezes útil (ou não) para distinguirmos os mais experientes dos mais incautos. Todos e todas.
É uma enorme ilusão que a escola substitui o que o ambiente familiar pode dar em educação. Alias, a família é a nossa primeira unidade de negócios de que participamos. É nela que começamos a negociar, conviver com um grupo de pessoas que são diferentes da gente e com a qual crescemos e vivemos os dramas e alegrias do dia a dia. Aliás, a ministra da indústria e comércio, mineira de Ponte Nova, Dorothea Werneck, já dizia que a implementação das normas de qualidade nas empresas levava essas normas também para as casas, onde se começava a vislumbrar um comportamento coletivo familiar mais organizado nas finanças, nos projetos de vida e na mobilidade social.
Nesse capítulo vale observar que o brasileiro no exterior, não estou falando dos nossos patrícios de Governador Valadares, que emigraram para poder trabalhar e sobreviver, é conhecido por falar alto, gritar e se exibir. Só no exterior? Provavelmente não, porque os jovens da nossa elite (veja quanto …inhos temos nas redondezas da nossa vida) são os que
falam: sabe quem é meu pai? Sabe com que está falando? E abusam no trânsito, nas regras e nas leis.
O sistema de valores das pessoas é uma decisão de educação individual e familiar. As escolas podem ajudar, mas essa elite que domina o nosso dia a dia também foi criada, como se dizia antigamente, nas melhores escolas, mas não resolvem. Na crise que vivemos e ainda vamos viver por muito tempo, urge a procura dos valores individuais e, porque não, da nação brasileira.
E mesmo que Minas só tenha o Mar de Espanha, muitos rios e lagos, o peixe continua fedendo pela cabeça.
STEFAN SALEJ, consultor empresarial, ex-presidente do Sebrae MG e do Sistema Fiemg.