Ilustração:Wagner Matias de Andrade
Me vejo hoje, mais do que nunca, me renovando e adaptando diariamente. Meus pais na casa dos 80 anos. Eles me ensinam todos os dias. Hoje não foi diferente.
Esse tal envelhecimento não é para os fracos não. Ele exige uma ginástica emocional, mental e quiçá física. É uma fase de muitas mudanças para todos os lados. Como filha, pendulo entre liberdade, autonomia, respeito de um lado e leve controle, limites e invasão, do outro. Não é consciente, na maior parte do tempo, mas assim está acontecendo. Quero deixá-los fazendo as coisas como faziam, mas precisam de ajuda. Quero interferir, me pedem para não me meter. É um aprendizado constante e maravilhoso – uma oportunidade linda de amar mais ainda quem nos deu a vida.
Os ajustes dentro da gente vão acontecendo conforme os dias vão passando. Minha psicóloga me sugeriu ano passado “retirar meus pais da posição de super-heróis”, ou seja, torna-los humanos. Confesso que está sendo desafiador, mas vai acontecendo gradualmente, às vezes, sem eu notar na hora. Essa relocação é muito benéfica para ambos os lados. Para mim bom, pois as expectativas são mais realistas, sofro menos quando a fragilidade aparece e para eles, pois não precisam se esforçar tanto para serem sobre humanos, podem relaxar e até dormir de dia – coisa que nunca fizeram antes dos 75 anos.
Triste, mas delicado. Triste, pois a fragilidade de certa forma incomoda e os deixa inseguros. Delicado, pois não acontece da noite para o dia. Meus pais sempre foram muito fortes, resilientes, corajosos e super-heróis. Meu pai é um Google ambulante, é o HD externo da minha mãe, o provedor, o guerreiro. Minha mãe, brilhante, controladora, lúcida e resolutiva, a cuidadora da casa, da família. Os dias vão passando e eles vão se tornando vulneráveis e cada vez mais amáveis. É um super exercício de acolhimento dos nossos sentimentos de filhos, é um processo de desapego de quem eram e de boas vindas a quem estão se tornando.
Que possamos estar abertos às adaptações necessárias no processo de envelhecer e de sermos cuidados. Cuidados como filhos, pois os papéis se invertem levemente e precisamos de colo. Cuidados como idosos, pois chegará nosso dia. Chegará nossa vez de envelhecer e deixarmos de ser super-heróis para nossos filhos. De um lado e de outro, uma verdadeira aventura para os fortes.
Tanya Mader
Autora do livro Lições aprendidas na prática do cuidar: um toque de amor
Fisioterapeuta e palestrante
Contato: 31-98868-2474
@tanyahelenamader
Ahhh!!! Que perfeito!
Tão verdadeiro!
Dói essa transição, é difícil aceitar q não são super heróis. Assim como não “crescemos” para eles, eles não envelhecem para nós!