Foto: os irmãos Daniel,Nicanor,Alcino e João
Por mais certeira que seja em nossa vida, a morte sempre nos pega de surpresa e nos coloca em sentido de reflexão sobre nossa trajetória nessa vida e quase sempre nos surpreende com a clareza que nos traz à mente fatos ligados àquelas pessoas importantes que se vão de nosso convívio. Esta semana tivemos a perda de um ícone do jornalismo esportivo escrito, falado e televisado, além de ser um grande acervo de memórias do esporte em Araxá, Alcino de Freitas ( confira matéria em nossa coluna de esportes), cuja trajetória brilhante e impecável toda a imprensa local, regional e estadual tem conhecimento e com certeza ainda irão surgir matérias sobre o seu trabalho infinitamente mais completas de tudo que eu possa dizer sobre ele, já que meu conhecimento nessa área é bastante limitado. Mas me sinto na obrigação, na vontade e na justiça de escrever algumas linhas sobre o Alcino de Freitas de minhas memórias. Um lado para mim muito especial que vem dos idos de 1960, época em que tive o privilégio de conviver com a família de Alcino no dia a dia e desfrutar da harmonia e do carinho inesquecível de sua mãe, D. Edith, seu irmão caçula, meu contemporâneo (e irmão de coração) João Batista de Freitas, sua irmã Conceição, Luiz, Daniel, Nicanor Filho e Sr. Nicanor pai.
O Alcino conhecido de todos pelo esporte era então meu ídolo, era o Alcino da Editora Abril, de uma São Paulo que me parecia tão longe, mas que eu tinha o orgulho de saber que alguém de Araxá estava lá nos representando dentro daquela importante empresa. Lembro-me de um Alcino sisudo, mas de coração grande, que vinha a Araxá visitar a família e sempre encontrava um tempo para nós, os pequenos da casa. Os anos se passaram e, como jornalista, mais tarde, tive o privilégio de ter Alcino de Freitas em colunas esportivas de nosso jornal e ver o seu crescimento estrondoso dentro dessa área. Afastamos-nos por muito tempo, mas meu convívio contínuo com o João sempre nos proporcionava alguns daqueles encontros de família em que o esporte não era o foco principal, o principal eram os vínculos de uma amizade diferente que nunca foi deixada de lado.
Na despedida ao amigo no último sábado, foi com muita alegria que assisti as filhas Thaís e Renata se unirem em uma homenagem ao pai fazendo uso de músicas intercaladas de lágrimas, mas carregadas de energias positivas pela brilhante vida que Alcino trilhou aqui na terra. Nunca vi uma homenagem tão justa e tenho certeza de que foi aprovada totalmente pelo homenageado, pois certamente além do esporte a música era outra grande paixão de Alcino de Freitas, aliás de toda a família que tem grandes expoentes atuando em todos os gêneros. Não só de ouvir, mas de compor, de gravar e de pertencer a um círculo imenso de grandes nomes de seu tempo.
Tive vontade de juntar-me ao coro e emendar sua composição “A Boiada”, que tantas alegrias me proporcionou ao longo da vida, anunciando-a em meus tempos de radialista. Saí mais leve depois de tudo e, com uma certeza absoluta, Alcino não morreu, apenas se permitiu uma viagem de reencontro com pessoas queridas das quais seu coração se encontrava carente e a essa altura já desfruta do carinho e companhia de sua amada esposa Nilda, sua querida mãe D. Edith, do irmão Luiz, de seu pai “Sr. Bita” e tantos outros que já se foram.
Sua missão na terra foi lindamente cumprida, amou a família em que nasceu, amou a família que construiu e deixou um legado inigualável ao esporte araxaense. E, o mais importante, conquistou sua imortalidade, vivendo para sempre no coração de todos que tiveram o privilégio de conhecê-lo assim tão bem como nós.
Domingos Antunes Guimarães
Jornalista, publicitário e escritor
Obrigado, Domingos, pela homenagem. Realmente foram anos maravilhosos que passamos juntos. Abraços