A música popular brasileira é imensamente rica e cheia de histórias. Hoje vamos falar a respeito do que era considerado brega na música, enquanto grandes movimentos aconteciam entre os chamados intelectuais brasileiros. Bossa nova, MPB, Tropicália, Festivais, Rock Nacional e tantos outros movimentos atingiam as classes mais privilegiadas, ou pelo menos como assim se consideravam, mas sempre existiu e sempre existirá o povão, aquele cidadão que trabalha, que dá duro, que sofre, que não tem dinheiro para comprar casa e carro sofisticados, mas que também ama, que também gosta de música, que também tem sentimentos.
Inicialmente esse termo era tremendamente pejorativo, mas hoje é ‘cult’ ouvir o que nos anos 1960 e 70 era considerado brega, englobando inúmeros artistas que vendiam milhões de discos, muitas vezes muito superior à vendagem de artistas consagrados da época. Eram músicas de qualidade, que quase sempre contavam o dia a dia do povo brasileiro, às vezes com histórias verdadeiras, outras nem tanto, mas quase sempre falando de amor.
Como prova dessa qualidade podemos citar, por exemplo, a música “Você não me ensinou a te esquecer”, de autoria do “brega” Fernando Mendes (foto acima), que depois de ser regravada por Caetano Veloso e servir de trilha sonora para o filme ‘Lisbela e o prisioneiro’ tornou-se MPB de primeira qualidade. Aliás, a maioria dos mais jovens que ouve pensa que a música é do próprio Caetano.
Com menos recursos, esses cantores não possuíam grandes orçamentos para as gravações, muitas vezes tendo de bancar o primeiro sucesso. Hoje, ouvir os chamados bregas das antigas gerações e até das novas gerações é praticamente escutar um estilo musical popular com bastante qualidade e paixão.
Portanto, o termo pejorativo brega era apenas um preconceito de muitos a respeito de cantores nacionais que não pertenciam aos movimentos mais elitistas. Muitos desses cantores, como Amado Batista, fizeram fortuna com suas músicas bregas, mas que traduziam o sentimento da maioria da população pobre e sofrida daqueles anos de ditadura.
Outros famosos que eram considerados bregas faziam canções cujos temas eram contra a moral e o costume da época. Dentre estas, podemos citar ‘Eu vou tirar você deste lugar’, de Odair José, que fala da prostituição, César Sampaio no mesmo tema em ‘Secretária da Beira do cais’, Amado Batista tratando do tema assédio sexual em ‘Secretária’ e do tema crime passional em “O julgamento”, Agnaldo Timóteo com sua ‘A galeria do amor’, que trata de tema homossexual, Wando, com a música ‘Moça’, tratando do tema virgindade, e tantos outros cantores e temas interessantes, mas que eram verdadeiros tabus nos idos anos 1970.
Podemos citar, ainda, como bregas, os famosos Sidney Magal, Nelson Ned, Lindomar Castilho, Waldick Soriano, Falcão, Reginaldo Rossi, Diana, Paulo Sérgio, Genival Lacerda, e outros não tão famosos como Roberto Muller, Marcelo Reis, Carlos Alexandre, Sandro Lúcio, Adelino Nascimento e tantos outros que não caberiam nesta página.
Para terminar, podemos afirmar, nós que vivemos essa época, que essas músicas fizeram parte de nossa adolescência, são músicas lindas, bem elaboradas, cheias de paixão, amor e verdade e que, se comparadas a outras tantas de agora, são muito melhores, com letras bem escritas e românticas, melhores arranjos, com músicos de primeira qualidade, que nada ficam a dever aos chamados ‘monstros’ da MPB.
Por João Batista de Freitas.
Concordo, o Reginaldo Rossi, por exemplo, é um dos cantores mais profissionais da música brasileira, visto como brega, mas fazia e cantava música para todos e até hoje é um dos melhores do Brasil.