
Por João Batista de Freitas especial para o jornal exempplar.
E por falar em saudade e em poesia, vamos voltar aos final dos anos 60 e início dos anos 70, pra você que tem saudade, que assistiu à novela Beto Rockfeller, no tempo da TV verdade, sem tanto sangue, corrupção, violência e sexo explícito!
Mais exatamente, vamos falar de uma poesia composta por Salvatore Adamo, que foi tema da novela, exibida pela TV Tupi em 1968 e 69. A música foi tocada em todo o mundo e também no Brasil.
Confesso que até a pouco tempo atrás eu não tinha consciência da tradução maravilhosa desta canção, apesar de ter estudado dois anos de francês com a querida dona Adélia, no Colégio Estadual D. José Gaspar, lá pelos idos dos anos 70.
É comum ouvir que a língua francesa, por si só, é muito romântica. Mas as rimas, a beleza desta poesia, cuja tradução nos mostra toda a beleza de comparar o “F” de Femme com flor, com fatalidade, com fada e, finalmente, com “foi-se embora”…
Eram anos de ouro da música universal. Ainda não havia as facilidades da internet, e a gente recebia poucas informações da música internacional, apenas pelo rádio, e apenas em AM (amplitude modulada). Até então, o Brasil vivia muito da música latino-americana, tais como boleros, tangos e guarânias. Mas a revolução musical dos anos 60, da qual participei, acabou fazendo com que fosse iniciada uma era que, para os jovens de hoje, é muito monótona e lenta, mas que, para nós, naquela época, já era o princípio do que hoje se chama de globalização.
Penso que se eu fosse compositor, em vez de jornalista, esta seria a música que eu gostaria de ter criado. Pela beleza, pelas palavras, pela história, pela poesia, pelo encantamento. Mas, infelizmente, não fui eu a compô-la.
Por mais que sejamos nacionalistas não há como não reconhecer a beleza destes versos e, como já comentei neste espaço, uma poesia transformada em beleza musical. Para os mais jovens, que estão chegando agora, fica abaixo uma mostra da maravilhosa música e poesia dos anos 70, independentemente da língua em que era cantada:
F… comme femme
Elle est éclose un beau matin
Au jardin triste de mon cœur
Elle avait les yeux du destin
Ressemblait-elle à mon bonheur ?
Oh, ressemblait-elle à mon âme ?
Je l’ai cueillie, elle était femme
Femme avec un F rose, F comme fleur
Elle a changé mon univers
Ma vie en fut toute enchantée
La poésie chantait dans l’air
J’avais une maison de poupée
Et dans mon cœur brûlait ma flamme
Tout était beau, tout était femme
Femme avec un F magique, F comme fée
Elle m’enchaînait cent fois par jour
Au doux poteau de sa tendresse
Mes chaînes étaient tressées d’amour
J’étais martyre de ses caresses
J’étais heureux, étais-je infâme ?
Mais je l’aimais, elle était femme
Un jour l’oiseau timide et frêle
Vint me parler de liberté
Elle lui arracha les ailes
L’oiseau mourut avec l’été
Et ce jour-là ce fut le drame
Et malgré tout elle était femme
Femme avec un F tout gris, fatalité
À l’heure de la vérité
Il y avait une femme et un enfant
Cet enfant que j’étais resté
Contre la vie, contre le temps
Je me suis blotti dans mon âme
Et j’ai compris qu’elle était femme
Mais femme avec un F aîlé, foutre le camp
M… de mulher
Ela desabrochou numa bela manhã
no jardim triste de meu coração.
Trazia os olhos do destino,
assemelhava-se a minha felicidade?
Oh, ela se parecia com minha alma?
Eu a colhi, ela era mulher,
Femme como “F” rosa, como flor.
Ela transformou meu universo,
Encantou toda a minha vida,
A poesia cantava no ar,
Eu tinha uma casa de bonecas.
E em meu coração ardia minha chama,
Tudo era belo, tudo era mulher,
” Femme” com um “F” mágico, “F” de fada.
Ela encantava-me cem vezes por dia
Com o doce arrimo de sua ternura.
Minhas cadeias estavam trançadas pelo amor,
eu era mártir de suas carícias.
Eu era feliz… e seria eu um infame?
Mas eu a amava, ela era mulher.
Um dia, o pássaro tímido e débil
Veio falar-me de liberdade.
Ela arrancou-lhe as asas,
O pássaro morreu com o verão.
Naquele dia fez-se o drama
e, apesar de tudo, ela era mulher,
Femme com um “F” todo cinzento, de fatalidade.
Na hora da verdade
Havia uma mulher e uma criança,
Aquele menino em que eu me convertera
Contra a vida, contra o tempo.
Estou encolhido dentro de minha alma
e compreendi que ela era mulher.
Mas uma mulher com “F” alado, foi-se embora.
Nenhum comentário para “F… comme Femme”