Imaginem vocês um casal grávido do 1º filho: escolhendo nome, itens de cuidados básicos, carrinho, chupeta, mamadeira, roupa para sair da maternidade, para citar alguns. Bebê nasceu. Agora o casal precisa entrar em acordo sobre horário e maneira de dar banho, horário e maneiras de colocar para dormir, mamadeiras/leite materno, ufa….
Esse início do texto é super relevante, acreditem em mim. Sigam em frente.
No mundo ideal, esse jovem casal constantemente está dialogando, considerando a opinião do outro, respeitando as escolhas e interagindo com enorme profundidade e honestidade porque querem muito cuidar dessa criança com as melhores “técnicas” e “métodos” estudados e passados de família em família. Esse casal tem vontade de alinhar essas várias formas de cuidar e precisam de tempo e energia para esse cuidado “dar certo” e gerar menos estresse.
Cada pessoa desse casal vem de uma família com valores, crenças, histórias, heranças, traumas, erros, acertos, medos e “rituais” próprios. Há também a influência dos avós e da comunidade (amigos e colegas), além de modismos de métodos para dormir, comer, brincar, estimular, etc. Percebem o desafio??!!
Agora imaginem filhos cuidando de pais idosos. O adoecimento não é planejado como uma gravidez e não há tempo muitas vezes de “acostumar” com a ideia de seus pais precisarem de ajuda que antes não precisavam, ou seja, não há 9 meses de gestação. Cada filho tem uma história de vínculo com esses pais, cada filho tem uma relação específica com eles, e com os seus irmãos. Cada filho é casado com uma outra pessoa, que também exerce uma influência em como você cuida de seus pais. Cada filho tem uma profissão (da saúde ou não), tem um tempo disponível, uma quantidade de filhos, está em uma determinada fase da vida, desenvolveu valores diferentes da família original por experiências próprias e outros convívios, cada filho tem uma maneira de resolver seus conflitos e desafios na vida.
Conseguem captar as diferenças? Se é desafiador cuidar dos filhos, cuidar dos pais é mais ainda. Pode ser absolutamente prazeroso, mas completamente complexo.
No 1º caso, há uma tendência maior dos objetivos serem mais congruentes e coerentes, ou pelo menos, há desejo que sejam para um resultado único: crescimento e desenvolvimento da criança com saúde mental, física e emocional.
No 2º caso, em um primeiro momento pode não haver nem o consenso da necessidade do cuidado, qualidade e quantidade desse cuidado. Cada filho pode estar em cidade diferente de onde moram os pais, cada filho tem uma possibilidade financeira maior ou menor, um interesse maior ou menor de cuidar de acordo com o vínculo construído ao longo dos anos, cada filho dá conta de lidar com desafios específicos.
É necessário conversar, respeitando as individualidades, trazendo conhecimento técnico e não achismos, considerando as observações de cada filho e então desenvolver um cuidado alinhado com princípios e valores comuns.
Enfim, o desafio é gigante e deve ser reconhecido, validado e bem conduzido, quer seja por alguém de fora da família ou mesmo alguém de dentro, mas neutro. O fundamental é reforçar a importância do foco desse cuidado: bem estar e alívio de sofrimento dos pais se atentando para seus valores e desejos, além de todas as possibilidades reais.
Nessa fase não deve haver espaço para culpas, ressentimentos e quaisquer emoções negativas contaminarem as relações e comprometerem o cuidado. Não há tempo para picuinhas, competições e jogos de poder. Essa deveria ser uma fase onde o verdadeiro espírito de fraternidade permeasse as relações, inundando o processo com compaixão, amor, respeito, consideração, cordialidade, afeto e trabalho em equipe.
Sugiro não deixarmos para a hora que esse cuidado seja premente para nós cuidarmos das nossas relações com nossos pais e irmãos. Se preparar para esse momento, com autoconhecimento e com o cuidado nas relações certamente tornará essa fase de cuidar menos complexa e cheias de arrestas e sim, mais leve e integradora.
Me diz o que você acha sobre esse assunto?
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Tanya Mader
Fisioterapeuta CREFITO 4 -24891 F
Especialização em Cuidados Paliativos
Diretora da Elan Vital – Movimento para a vida
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Tema extremamente complexo, porém, importante colocar em pauta. São muitos os desafios. Parabéns pela abordagem leve e reflexiva.