REALIDADE
Nem esta viagem me descansou a alma
Exausta desta vida
Deste labor
Nem o canto dos pássaros
Me tranquilizou
Não há espaços possíveis
Estou amordaçada
Numa camisa-de-força
É esta a camisa da vida
Que nos obriga a seguir normas
Estúpidas
Banais
Rígidos sistemas de produção
Máquinas
Maquinalmente
Girando e girando
Inúteis
Somente estas pedras onde piso
As sufocações no ônibus
A calosidade das mãos
As rachaduras nos pés
Me são reais
Tal qual o prato à espera
Do arroz com feijão
Sem tempero sem pimenta
Sem sabor
Só para engolir
Os dentes podres coitados
Já não mastigam mais
Só
Somente o suor dos trabalhadores
No ônibus
E esse cheiro de fossa no ar
Me são realmente
Reais
Maria de Lourdes Alba