
“O nosso destino é irreversível e algemado no tempo.
Tempo é a substância da qual somos feitos.
O tempo é um rio que nos leva,
É um tigre que nos devora,
É um fogo que nos consome.”
“Quando eu era criança” é passado; portando, já tem o seu “tempo”, ou seja, “quando eu tinha a idade de um garoto” já decorreram muitos anos. Quando olho para trás, vejo-me menino; quando enumero esses anos, percebo que o tempo passou e ficou velho. Eu sou um menino do século passado. Tenho uma história escrita e vivida há muitos e muitos anos.
O ontem já ficou velho, o amanhã ainda está para nascer. Ao recordar o meu tempo de menino me faz cronologicamente estar na contramão do tempo, pois os anos passam e marcam. Quanto mais passado, mais menino sou, mais novo me torno. Quanto mais retorno ao tempo de minha infância, deparo-me com o meu início, meu princípio. Puxa, mas já faz tanto tempo! São décadas vividas que, simplesmente, passaram. Não posso vivê-las mais, apenas recordá-las.
Percebo que, quando tento me prender ao passado, não vivo. O passado me envelhece. O passado serviu para que eu existisse e chegasse até aqui. Bebo da fonte da minha infância e aprendo com o meu passado, mas não vivo nele.
O futuro é muito novo para mim. Não sei se vou existir amanhã ou depois de amanhã. No futuro ainda sou projeto, um plano, algo a ser realizado, conquistado. O tempo não existe no futuro, nem eu!
Sei que o tempo me consome, me devora. Sei que faz muito tempo “o tempo da minha infância”; talvez seja por isso que olho para trás com carinho. Quanto me volto para o passado, vejo-me um menino cuidando do tempo que passou e que agora está velho, precisando de mim.
Assim vou cuidando do hoje, do presente, vivendo intensamente a cada minuto. Quero poder somar cada dia aos dias de minha vida como um presente, um momento único. Uma vez vivido, posso pendurá-lo na parede do tempo e relembrar com satisfação: Puxa, como aquele menino viveu intensamente e apaixonadamente a vida! O tempo passa, a matéria envelhece, mas a vida se renova a cada instante.
Antonio Trotta – Jornalista, escritor e poeta
@atrottamg













