E lá vem o nosso Português
Gente, não sou Machado de Assis, tão pouco Ariano Suassuna para dominar as peripécias da nossa língua portuguesa, mas consigo me virar tropeçando e consertando quando necessário. O que coloco em questão são aqueles erros que as pessoas cometem no dia a dia e nem percebem, achando que está tudo certo. Vejamos alguns:
“Eu não gosto disso porque é ‘superfulo’.” Puxa, se a pessoa não gosta por ser desnecessário ou demasiado, ela foi profundamente sagaz e falou chique, mas não acertou. A palavra é ‘superfluo’, mas, convenhamos, se falamos ‘furúnculo’, que é algo tão desnecessário, como não deduzir que este abcesso que começa com um folículo não seria ‘superfulo’? Temos que dar razão para a lógica!
Uma mulher para agradecer diz “obrigada”, já um homem diz “obrigado”, concordando com o gênero, mas um homem que vai agradecer a uma mulher poderia dizer “erroneamente” “obrigada”. Mas como não pensar assim? Veja: o sentido vem da palavra ‘obrigação’, quando você faz um favor a alguém, quer se sentir obrigado a retribuir em outro momento. Se o rapaz fez o favor para a moça, quem tem a obrigação é ela, não? E agora vem a resposta: “de nada”, analise comigo: Se ganhamos um vale ‘de’ 10 reais, então, logicamente, vale ‘de’ zero reais seria um vale ‘de’ nada. Desta forma, conclui-se popularmente que: “obrigado” se responde “de nada” e não o formal português “por nada”. Concordam?
Mais um tropeço que cai na boca do povo: “eu tinha pago” ou, na mesma linha, “eu tinha trago”. Tá certo, a gente sabe que o verbo “tragar” é fácil colocar no tal Particípio Regular – “eu dei um trago no cigarro”, mas o cérebro não separa tão facilmente o verbo “trazer” do “tragar”, por isso acontece esta pequena confusão levando outros verbos juntos no ‘combo do engano’ como: “Ele tinha sido eleito” ou “O juiz havia expulso o jogador”. Na verdade, no calor da emoção de se eleger alguém, quem vai se lembrar da forma correta que é elegido, ou em uma partida de futebol, quem vai se lembrar de expulsado? Mas observe: em uma partida de vídeo game, nenhum jovem vai confundir e falar errado: “Eu tinha salvado o monstro e ganhado o jogo, logo, no final, já tinha morrido” salvando assim nossa gramática desta confusão.
Vamos para mais uma “pérola” da coletividade: “Me dê duzentas gramas de salame”. Gente, é um terremoto gramatical? Como a palavra “grama” tem dois gêneros?! Vou dar razão à maioria coletiva, se você seguir a “lógica” das medidas seria: ‘a colher’, ‘a lata’, ‘a tonelada’, ‘a porção’, ‘a dose’, ‘a xícara’… o cérebro só segue o fluxo: medida com número – feminino, ou seja, duzentas gramas. Mas, não, a grama é mato! Se quiser se referir ao peso: o grama. O português muda de chapéu no meio da festa.
A língua portuguesa é contraditória por natureza e o atalho vira hábito. A palavra correta, ou como diz o popular “o português bem dizido”, sobrevive mais na gramática do que nas ruas. Nos comunicamos com espontaneidade e, como diria o poeta Zé da Luz, um expoente da literatura de cordel: “Ai! Se sêsse!”
Renata Violino Especial para o jornal Exempplar.















