Ao decidirmos morar na estrada, ou viver o dia a dia em movimento, não imaginávamos o universo em que mergulharíamos. Ficamos surpresos com as muitas tribos com as quais passamos a conviver. A vida nômade não é igual para todos. Há várias modalidades, eu diria. Para mim todas geram observação e reflexão. Neste momento lembro especialmente dos meus vizinhos que trabalham pela estrada. São muitos e as suas atividades muito diversificadas.
Os serviços mais óbvios são os referentes aos pequenos consertos que as casinhas sobre rodas exigem. É preciso lembrar que temos carro e casa acoplados, precisamos de manutenção básica de ambos e mais o socorro para os transtornos causados pela rodagem permanente. Especialmente nos grandes estacionamentos de motorhomes, ou nos campings, encontramos pequenas oficinas mecânicas e auto elétricas. Normalmente os profissionais são viajantes também, já faziam esses serviços nas suas cidades de origem e, morando na estrada, continuaram suas atividades. Resolvem os problemas mais comuns com uma caixa de ferramentas onde há um pouco de tudo e muita criatividade. Nos grandes postos de combustível existentes nas rodovias pelo país afora há todo o tipo de serviço, esses mais específicos para caminhões, já aprendemos que não nos servem, as casinhas sobre rodas exigem serviços especializados. Os serviços menos óbvios são aqueles semelhantes aos existentes nas cidades e, dentre esses, o trabalho artístico me chama a atenção. Me atraem os trabalhadores das artes; os músicos e os artesãos são os que mais vizinhamos até aqui. Os músicos chegam nas cidades, tocam uma ou duas vezes, de forma gratuita, por contribuição espontânea ou trocam trabalho por refeições. Se os clientes gostam, acertam couvert e ficam até que se esgote a novidade. Deu o que tinha que dar, seguem adiante, vão tocar na próxima cidade. Uma vez vizinhamos com um artista desses por um tempo. Ao ensaiar em casa, tocava seu violão e cantava não sei se música sertaneja ou pagode, só lembro que as letras eram picantes, cantava todo tipo de sacanagem. Tocava, cantava e dançava no nosso quintal coletivo, rebolava bem ele. Viajava com a família, esposa e filho pequeno. Quando estavam à mesa, especialmente no almoço, faziam oração em voz alta, entoavam hinos de louvor e liam passagens da bíblia. Contraditório nosso vizinho músico, como somos todos eu acho. Numa hora dançava, rebolava, cantando sacanagens que até eu que não fico constrangida por qualquer coisa, ficava meio sem graça. Logo após estava ele orando com a família, de mãos elevadas ao céu. Eu me divertia com aquilo. Há também muitos artesãos morando na estrada. São muitas as casinhas que ao abrirem a porta aparecem os mostruários com todo tipo de brincos, colares, pulseiras, trabalhos super criativos, feitos com materiais variados, arame, metal, pedras, penas. Não me canso de admirá-los. Adoro sentar-me ao lado desses artistas e vê-los trabalhar. Usam poucas ferramentas, praticamente só pequenos alicates, com eles elaboram peças lindas, das mais rústicas às mais delicadas. As casinhas desses trabalhadores são simples, às vezes bagunçadas, afinal, estão ali carro, casa e ateliê. É comum que os artesãos vivam em kombis, chamadas kombihomes. Os kombeiros são outro grupo muito singular da vida viajante. Barbeiros e cabeleireiros também são frequentes pelas estradas, é comum ver uma cadeira na calçada, um cliente de capa protetora e um profissional manejando, habilmente, uma tesoura ou uma navalha. Seus clientes são outros nômades ou a população local, que opta por esse serviço, que sempre é mais barato. Massagistas são outro grupo de profissionais encontrados pelas estradas. A estrutura necessária resume-se a uma maca que é montada no parque ou na casinha mesmo, embaixo do toldo. Esta também é uma atividade que requer pouco equipamento, mas muita técnica, aliás, essa é uma característica comum no trabalho desenvolvido na vida nômade. Há os vendedores também, esses têm que contar com um mostruário possível de ser transportado na casinha. Já vizinhamos com vendedores de roupas, erva-mate, chás, vinhos. Esses vendem em suas casas, onde montam vitrines, ou andam nas redondezas comercializando seus produtos pelas ruas ou pela areia das praias. Há ainda as costureiras, as crocheteiras, as tricoteiras, enfim, trabalhadores nômades é o que não falta! E eu sigo por aí, observando os trabalhadores nômades, admirando seus trabalhos e escrevendo sobre eles. Hoje meu trabalho é escrever e vender meus livros aqui e ali. Pensando bem, acho que quase já sou um deles!














Muito interessante este trabalho nômade, são pessoas simpáticas e agradáveis que comercializam suas artes.
Eu gosto de conversar com eles…
É legal ver esse pessoal que vive na estrada, cada um com seu trabalho e seu jeito de tocar a vida. A estrada junta muita gente diferente, sempre aparece uma história nova. É um jeito bem livre de viver, e dá pra entender que vocês, vivendo na estrada também, acabem se sentindo um pouco como eles.
Passei a conhecer e admirar os trabalhadores da estrada.
Sempre penso que viver assim deve ser divertido ou não… ao mesmo tempo.. Imagino pra quem não tem uma conta bancária fica mais complicado aí é contar com a sorte mesmo. Na maioria dos lugares as pessoas não querem saber dos seus problemas Admiro essas pessoas e suas coragens…
Eu também admiro. Os nômades mesmo (!) vivem somente do seu trabalho.
A diversidade da estrada deve ser maravilhosa…
E é mesmo! O melhor da vida viajante!
Um olhar sensível para essas pessoas que vivem.a liberdade…mas num país e planeta capitalista…tem.que sobreviver…pena que a permuta ” saiu de moda”…Seria outra possibilidade de sobreviver de forma digna e humanizada…mas vida que segue!
É verdade! Obrigada pelo teu comentário que amplia a crônica.
Viver na estrada tem sua dinâmica própria! Muito bom vocês dividirem isso conosco!
Obrigada por estar aqui conosco!
Oi, Elida. Parabéns pela crônica. Como sempre, muito bonita e gostosa de ler. Não dá pra parar, depois de começar tem que ir até o fim pra ver a conclusão. É um mérito, porque muitos textos a gente abandona logo que começa a ler.
Mas vou mandar esta tua crônica para um afilhado meu, também trabalhador nômade mas, acho, de outro tipo. Ele trabalha on-line e tem que ter boa estrutura e equipamentos de internet. Então vai passando de cidade em cidade, onde fica por uns meses e depois vai adiante. Agora acho que ainda está no Ceará, numa pequena cidadezinha de pescadores, há quilômetros de Fortaleza. Diz que é um local paradisíaco. A cor do mar é um negócio… Em fim. Coisa pra quem tem coragem e possibilidade de ser nômade. Abraço pra ti e o Gilberto.
Tem esses também…muitos pela estrada! Levam o trabalho no seu computador! Obrigada pelo comentário! E vamos trazer o teu afilhado aqui para o Exempplar!
Muita admiração por esses trabalhadores nômades. Um dia eu tomo coragem e viro uma também ❤️
Vamboraaaaa…
Que bom que existem essas pessoas disponíveis para prestar serviços nesses locais e até mesmo nas estradas!
Precisamos de socorro às vezes…os trabalhadores das casinhas nos salvam!
Elida novamente mostra um mundo paralelo que a estrada proporciona conhecer. Fico refletindo sobre como a vida pode ser simples, com estruturas basicas, e assim ensina desapegos, criatividade e essencialidades…
É um exercício constante viver na estrada!
Estou amando ler estas postagens, é como conhecer o mundo pela janela dos seus olhos.
Que bom que estás conosco aqui também no Exempplar. Obrigada!
Que experiência maravilhosa! Sonho de consumo de muitos mas as vezes falta coragem para o primeiro passo! Parabenizo vcs por estarem colecionando tantos momentos que ficarão eternizados na memória pra sempre! Boas aventuras pra vcs!
Obrigada querida! E seguimos juntas também aqui no Exempplar!
Mto esclarecedora tua fala. Me interessei mto pelos artesãos nômades.Parabens por uma leitura suave e linda. ABRAÇOS
Fazem maravilhas em estúdios improvisados! Adoro vê-los trabalhando…
Oi Viajante, bonita crônica, é um um mundo a parte,livres, compram vendem, sem ponto fixo.vivem em liberdade, conhecendo o mundo, tendo seu comércio próprio e não menos bonito e importante.
Adoro ouvir suas histórias. São de desapego total!
Obrigada por estar aqui, amiga!
Muito bom tuas crônicas! É um momento de muito aprendizado!
Muito boas…
Obrigada! E que bom que estás aqui!
Admirável teu estilo de vida. Infelizmente sou muito comodista. Se fosse viajar num motorhome, teria de levar meu staff. Este deslocamento contínuo, as intempéries, sem se fixar em lugar nenhum, me dá muito insegurança.
Mas te desejo sempre sucesso e tuas crônicas prendem da 1a à última linha, são emocionantes relatos e percebo o q distingue os nômades, pessoas de diversas profissões está na grandeza dos pequenos gestos, na ajuda mútua.
A diversidade entre as pessoas para mim é muito interessante! Nada é igual para todos. A vida nômade é um exemplo! Obrigada pelo comentário!
Sem dúvida, é um estilo de vida diferente, despretensioso e de muitas histórias para contar, dialogar, com enfrentamentos diários de sobrevivência, aprendizado e emoções!!
É isso mesmo! Vidas diferentes e interessantes!
A diversidade das estradas é encantadora. É o que dá prazer, conhecer tantas pessoas, cada qual com sua história, cultura e habilidades.
A diversidade da estrada me encanta e inspira!