Os regionalismos, a linguagem produzida pela cultura local, os vocábulos estranhos são para mim um dos encantos da vida viajante. A gente tem que aprender por onde andamos, especialmente, pelos interiores desse brasilzão de meu Deus, o nome correto das coisas. O correto para aquele local, bem explicado. Às vezes, é preciso traduzir algumas palavras e expressões como se estivéssemos em outro país, falando outra língua. A gente vai vivendo pela estrada e cozinhando na nossa minicozinha. Ao fazer as compras, é preciso saber como fazer o pedido.

Por exemplo, se estiver no sul vou comprar mandioca, se estamos no sudeste é melhor pedir aipim, que mais adiante passa a ser macaxeira. E essa raiz maravilhosa para o meu paladar, de acordo com o solo ou temperatura, sei lá, pode ter sabor e consistência distintas de um lugar para outro, assim como mandioca frita, aipim frito ou bolinho de aipim podem ser pratos diferentes ou exatamente iguais. Sei que a mandioca pode ser chamada também de maniva, mucumba, pão de pobre, essas ainda não encontrei, sigo procurando. Acho que os vários nomes da bergamota são os mais conhecidos Brasil afora. Ela pode ser com “v”, vergamota, se estivermos na minha terra ou tangerina se estivermos na terra do meu marido. Pode ser ponkan ou mimosa também. No sul, no inverno, um hábito quase tão difundido como a roda de chimarrão, é comer bergamota ao sol de uma manhã de inverno, com temperatura negativa. Esse ritual combina sabor, frio, sol e o cheiro forte. Aliás, para driblar o cheiro forte que fica nas mãos há várias alternativas, uma bem popular é descascar a bergamota dentro de um saco plástico (ou sacola, em alguns lugares!) onde os dedos são enfiados na casca, protegidos. Descascar bergamota com faca, nem pensar, é quase pecado mortal. A pessoa ao lado pode ser uma boa alternativa, por exemplo, um marido disposto a ficar com o cheiro da bergamota para ter o prazer de te entregar a fruta descascada. A ponkan acho meio sem graça, pouco cítrica, pouco marcante.
Nas padarias (ou panificadoras, em alguns lugares!), o meu maior desafio é não deixar escapar um “quero um cacetinho”, sob pena de receber um sorriso maroto do padeiro ou o olhar desconfiado das pessoas da fila do pão. Cacetinho é o pãozinho francês no Rio Grande do Sul e parece que só neste estado. Não encontrei outros balcões onde eu possa pedir tranquilamente um cacetinho, sem gerar constrangimentos. Sinto falta do cacetinho que encontro na esquina da minha casa grande em Porto Alegre. É uma delícia. Pão francês não tem o mesmo gosto. E não só no mundo dos alimentos encontramos nomes diferentes para as mesmas coisas. Os regionalismos são um desafio e um aprendizado constante. Às vezes geram dificuldades.

Uma vez ajudando meus netos curitibanos nas tarefas da escola, demorei a encontrar o penal que eles haviam perdido. Que raios é isso? Eu demorei a entender que “aquele negócio dos lápis”, como eles explicaram, era o estojo! Penal? Relativo à pena, com certeza. Eu nunca havia ouvido esse termo, mas já me acostumei, é a palavra usada pela gurizada de Curitiba para se referir ao estojo escolar. E no futebol? Acho curioso os termos usados pelos gaúchos. No Rio Grande do Sul, o gol é a goleira, o uniforme do time é o fardamento, o banco de reservas é a casamata. É possível que os desavisados se assustem por acharem que se trata de uma guerra, afinal, esses são termos bélicos. Pensando bem as partidas de futebol, às vezes, são espetáculos semelhantes à guerra, não só pela violência, mas por serem insanos. E eu sigo aprendendo, me divertindo com essa variedade de termos para as mesmas coisas, Brasil afora. Em Santa Catarina não procure por lavagem de carro, é lavação. Se precisar de conserto da lataria, pode ser chapeamento ou lanternagem (mas este termo não seria referente à lanterna e não à lata? Deixa assim…) Nas favelas do Rio, o casario não tem emboço, no sul elas não têm reboco. Se eu, às vezes tenho que recorrer ao dicionário para me comunicar adequadamente, imaginem os estrangeiros! O português é uma língua linda e difícil! Pobre dos gringos!















E para fazer um lanche, você se dirige a uma “Lanchonete” ou a uma “Lancheria”?
Regionalismos! Muito bom texto, querida Élida!
Obrigada! Que bom que estás conosco também aqui no Exempplar!
Muito bom, Elida! Lembrei casos meus!! Um dia pedí num quiosque em Copacabana, uma batida de mamão! As sete da manhã alguns homens que tomavam cafezinho, voltaram-se de imediato, surpresos, pra mim. E caiu a ficha que ali era “vitamina”! Segurei a tempo o guri do bar (ops, o garoto), de pegar a garrafa de cachaça. Que, afinal, não ia combinar com mamão, nem com a hora do dia, nem com uma guria de 20 anos. Mesmo no Rio de Janeiro…
Essas experiências são uma delícia! Tenho vivido muito na nossa vida viajante!
Tem essa também…
Nosso Brasilzão é lindo também no vocabulário.
Em cada Estado as suas particularidades.
Belo texto. Até o próximo!
Obrigada! E vamojuntooooo…
Querida colega amei teu texto. Realmente nosso país tem uma riqueza de palavras com escritas diferentes mas com o mesmo sentido em estados diferentes.
Uma variedade interminável! Todo dia aprendo regionalismos…e adoro!
O texto mostra que falar diferente não é erro, é identidade. Cada palavra carrega o jeito de um lugar, o sotaque, o clima e até as lembranças. É isso que faz o Brasil ser tão diverso , um país onde até a língua viaja junto com a gente.
Obrigada pelo atento comentário!
Leve e envolvente leitura
Que bom que gostaste! Obrigada.
Muito bom. Diversidade e ao mesmo tempo união deste Brasil imenso.
E isso mesmo!
Querida, texto maravilhoso! Esse país imenso! É tão interessante o regionalismo!
Obrigada. Estou curtindo os regionalismos nessa vida viajante!
Bah Elida a postagem de hoje foi muito legal lembro da BR 101 que em santa catarina chama-se brioi, ou a carne moida que chama boi ralado, o pior em curitiba o quebra mol s chama brigadiano deitado.
Mas podemos acrescentar outras maravilhas da lingua portuguesa tipo entrar em forma sem pão de forma.
Parabéns por mais essa reliquia
OBS.: o cacetinho quentinho com manteiga só é bom aqui no sul
Os exemplos são intermináveis! Um melhor do que o outro! Obrigada por ampliar a crônica!
Muito interessante estarmos atentos às diversidades regionais de nosso imenso Brasil.
E são muuuuuitas!
Dizem que, no litoral catarinense, um dos jeitos de dissolver uma fila ou uma junção de pessoas é gritar: “vão cercar!”. Porque é o modo como os pescadores avisam que o cardume de tainhas se aproxima e a comunidade corre pra ajudar na pesca artesanal. Certa vez, em um dos vilarejos costeiras, todos os fiéis foram se retirando da missa em surdina, e por fim até o padre, para “matar” os peixes. Na festa junina, a quadrilha também termina com esse grito de “vão cercar!”
Olha só! Interessante! Obrigada por ampliar a crônica!
Adorei o texto! Muito bem exposta a diversidade do nosso Brasil.
Obrigada! Que bom te ter pertinho também aqui no Exempplar!
O lindo do Brasil é isso. A regionalidade e suas diversidades. Quando cheguei no nordeste a lapiseira que para mim era um lápis com troca do grafite, pra eles é o apontador de lápis. Lápis é caneta, canjica é munguzá e tantas diferenças mais. No Sul, demorei a entender o que era bergamota, sim, me apresentaram com b ou entendo errado até hoje?
É isso mesmo. No sul pode ser com V ou com B.
Tu sabes muito bem sobre os regionalismos…és nômade também!
Vivências maravilhosas. Parabéns Élida e Gilberto.
Linda descrição fizeste dos diferentes modos de falar.
Por isto podem falar do Brasil,mas eu amo este País por esta diferença, que se mistura de tudo que acaba dando certo.
Às vezes não dá muito certo…mas sempre seguimos..e pra frente!