
“… a gente morre é para provar que viveu.”
Guimarães Rosa
No Dia de Finados temos uma oportunidade ímpar de pensarmos na vida. De nos lembrarmos da vida daqueles que já se foram e de como foi viver ao lado deles. Rever o passado, recordar e se sentir inteiro dentro do ciclo da vivência. Pensar que, em pensamentos, os momentos reatam e entrelaçam pessoas e situações distintas.
Vive em nós quem já morreu. E podemos perceber que somos o acúmulo, a experiência e o legado de tantos que, ao morrerem, nos completam. Alimentamos nossas almas de alegrias e tristezas, felicidades e sofrimentos. Morremos porque vivemos. Não é a morte que vive, mas é a vida que morre. Portanto, é da vida que temos que viver o máximo, o sublime, o essencial.
Morrem aqueles que nós mais amamos. Antes de partirem, viveram para compartilhar esse amor, a sua poesia. Antes de nos deixarem, viveram, nos deram vida e nos ensinaram a viver. Agora, vivem em nós! São partículas invisíveis que nos fazem ver a substância, o conteúdo, não mais da forma pela qual enxergávamos. O essencial é visto pelo coração.
Ao pensarmos em nossos mortos, nos lembramos deles enquanto estavam vivos e nos momentos de cumplicidades, emoções compartilhadas, situações singulares, quando a vida pulsava e registrava na alma o que só a alma é capaz de revelar. O filme da memória se rebobina e as cenas dão lugar aos sentimentos. São emoções sem cortes, mas que cortam o coração. São cicatrizes da alma? São lembranças e conclusões íntimas da vida, de quem partiu, do que ficou.
A morte nos impõe a sensação da perda total. Da falência múltipla da alma. A vida parece pequena e impotente diante da grande e inestimável perda. As cortinas das pálpebras se fecham, a dor parece irresistível e o sofrimento circula por todos os cantos e recantos do coração. A vida parece que é realmente nocauteada. Mas resistimos. Não permitimos que a morte vença quando, ao nos mantermos vivos, fazemos viver, em nós, aqueles que morreram, que partiram, que remaram à outra margem.
A morte parece ser o ponto final, o fim do texto, o derradeiro parágrafo, a última palavra. Mas é na vida que a poesia encontra inspiração e versos para descrever a história de cada um de nós. Para imprimir nas letras e na alma a saudade de quem se foi. Enquanto houver poesia e um coração para amar, ninguém morre. Apenas adormece nos versos do poeta.
Antonio Trotta, Jornalista, escritor e poeta
@atrottamg














Linda maneira de nos fazer refletir sobre nossos entes queridos que já se foram. Embora eu pense que não morre nunca quem vive dentro de nós.
Grato. Verdade. Enquanto forem lembrados estarão vivos em nós e através de nós.
Lindo texto!
Doces lembranças de quem se foi.
Saudade!
Saudades também poderia ser o título desse texto, não acha? Muito bom.
Quando minha mãe morreu fiquei sem chão.
Meu marido me consolou com estas palavras.
“Antes sua Mãe não podia te acompanhar em todos os lugares, agora sim, pois estará sempre no seu coração”
Confesso que tocou tão fundo no meu coração que minha Mãe vai sempre comigo aonde vou.
Um Abraço
Seu marido soube ajudá-la a superar essa grande perda. Excelente.
Parabéns por um texto perfeito com a complexidade da morte sobre a vida…
A morte nos faz refletir o quanto somos pequenos perante a vida e o quanto ela é curta quando deparamos com ela (a morte)… Somos um espírito em evolução e necessitamos deste ciclo como aprendizado. Enquanto vida vamos aprendendo a valorizar quem partiu e quem ainda permanece ao lado…o corpo é somente uma estrutura necessária para a Alma terrena que nos permite a oportunidade de amar, respeitar e após… deixamos na memória de cada ser que fez parte desta caminhada um legado de aprendizado que passamos de geração para geração…A morte é um espírito que vive.
Grato. Vc também soube dialogar com esse tema, às vezes, tão difícil. A alma terrena busca novas dimensões. Viver é preciso, vamos aproveitar a oportunidade.
Nossos amados vivem em nós, essa é uma das verdades. A outra é que quando partimos, eles, com certeza, estarão esperando por nós.
Sim. Vivem e nos esperam. Estamos de passagem. A vida é movimento.
Lindo texto, e complemento com umas palavras de Bert Hellinger: “Atrás de mim estão todos os meus ancestrais me dando força. A vida passou através deles até chegar a mim. E, em honra a eles, eu a viverei plenamente.” Abraços
Sim. Atrás de mim os ancestrais. A nossa frente os que darão testemunhas de nós. Uma semana de luz.
Como sempre, um texto cheio de poesia! E nada mais poético que o dom da vida, em que está inserido em seu processo, a morte!
Parabéns pelo pelo texto!
Sim. A poesia faz parte da morte, por mais dura. Ela nos leva a imaginar os nossos em paz e no paraíso. Uma inspiração para a vida eterna.
” Queria ter trabalhado menos , ter visto o sol se pôr…”
Passamos a vida pensando e com medo da morte, esquecemos de viver.
Verdade. Correria para quê? Depois fica tudo. Viver e viver é o movimento.
Viver com alegria ,a morte é um portal que nos leva a outras dimensões, outros aprendizados.
Saudades ficam,mas estaremos juntos numa outra oportunidade.levemos este aprendizado,agradecidos de levarmos sempre conosco a eterna presença em nossos corações desses seres inesquecíveis em nossas vidas
Viver e aproveitar a vida. Deixar marcas profundas que deixam saudades.
A vida é uma dádiva e viver a vida é honrá-la infinitamente. A morte é seu reverso. Morremos nos mundos superiores para nascer aqui, neste corpo. Um dia morremos aqui e nascemos novamente lá, de onde viemos. A vida é um fio de eternidade em diversos momentos e formatos. Difícil lidar com as partidas, mas importante compreender que tudo segue e sermos grato por todas as experiências e oportunidades de convivência que nos foram dadas. Não é facil! Despedidas são exigentes!
A ausência física machuca o coração, porém o que importa é o amor que ficou!
Parabéns Trotta, ótimo texto.
Um texto profundo e comovente, que transforma a dor da perda em celebração da vida, lembrando-nos de que o amor, morte e poesia são formas eternas de presença.
Morte, essa nomenclatura que transcende seu significado. Não morremos, apenas adormecemos para acordar noutras paragens… Eu, quando me for, irei para o país das PALAVRAS e a minha casa será na RUA DA POESIA…