OLHA A FOTO!

Em todos os roteiros turísticos há pontos naturais, ou produzidos artificialmente, para fotos. Imagens lindas expostas em banners, folders, para atrair as pessoas em férias. Não faço mais parte desse público, raramente compro passeios, shows, coisas do tipo. Não estou mais em férias, moro na estrada, mudando de endereço, buscando novos quintais ou nova vizinhança. Mas já fiz muitas viagens e passeios para os lugares que constam nos cartões postais. Para os mais jovens, é melhor explicar: “cartão postal” era (ou é, acho que existem ainda!) um cartão mesmo, com uma foto linda de algum lugar atrativo ou histórico. No verso havia linhas para a gente endereçar e escrever uma pequena mensagem, espaço para o selo, necessário para enviar pelo correio para os amigos, parentes, dando notícias da viagem. Era comum também a gente comprar cartões para trazer como lembrança da viagem. Havia até colecionadores de cartões postais. No universo digital em que vivemos hoje é quase incompreensível esse hábito. Acho que os cartões pouco existem hoje, mas as paisagens continuam lá chamando a todos para fotos! É uma experiência interessante conhecê-las. Tenho uma sensação curiosa ao chegar pertinho das imagens dos cartões postais. Talvez pela infância pobre, onde era inimaginável conhecer o mar, passear de barco até uma ilha paradisíaca, caminhar pela floresta amazônica ou pelas avenidas de uma cidade grande, o que eu só via nos livros da escola.
Continuo chegando a muitos lugares que constam dos roteiros turísticos, mas hoje chego devagar, na minha casinha pequena e confortável, escolhendo onde estacionar. Não tenho pressa, não tenho mais grana para pacotes turísticos, o que fiz muito ao longo da vida. Mas chego na foto, faço parte da imagem e, a cada experiência, sinto prazer e sou agradecida. A Deus, ao universo, aos meus espíritos protetores, a ancestralidade, sei lá, agradeço. Ao me sentir “dentro de um cartão postal”, lamento pelas pessoas que ficarão a vida inteira só olhando fotos e imagens lindas nos folhetos turísticos e nas redes sociais. Parece piegas, mas é pura verdade, só eu sei o que sinto. Uma vez ouvi de uma amiga viajante que, sempre que ela se deitava na sua cama confortável e quentinha, sentia uma certa tristeza, culpa até, pensando nas muitas pessoas que naquele momento estavam passando frio. Eu a entendo e mais agradecida fico pelo privilégio de poder estar em muitos lugares que só via em lindos cartões postais. Já estive em muitos, mais do que a maioria das pessoas que conheço, mas quase nada frente ao que o mundo nos oferece. Fico sem fôlego em todas as oportunidades: caminhando pelas ruas de Paris, Londres, Lisboa, Roma ou Madrid; olhando o mar e as formações rochosas da Australia ou da Nova Zelândia; colocando minhas mãos na calçada da fama em Hollywood, jogando em um cassino em Las Vegas, dançando um tango na rua em Buenos Aires. Já fiquei emocionada, de chorar mesmo, andando pelas ruas de Ipanema no Rio de Janeiro ou fazendo pose em frente ao Museu de Arte Contemporânea, em Niterói. Fazer parte, por um momento, de uma obra de Niemayer é uma sensação única! Como pode a arquitetura desafiar a física com arte? Nesse quesito, Brasília é insuperável, a gente vive em um museu a céu aberto. E as cidades históricas, preservadas? Prédios cheios de beleza e história! Por todo o canto, da casa de Cultura Mário Quintana em Porto Alegre ao teatro Amazonas, em Manaus, passando pelo interior de Minas Gerais, os cenários para foto são intermináveis!

Aproveito o que posso, quero registrar tudo! No litoral brasileiro, de ponta a ponta, já morei. Cada pequena praia, cachoeiras, rios, tudo, absolutamente tudo, é cenário pronto para lindas imagens. Mas todos esses lugares não são só cenários, geram emoções, pois há neles as pessoas, os moradores, os trabalhadores, que preservam os ambientes e os potencializam para atrair os viajantes, com o seu trabalho produzem a cultura local. Não sou fotógrafa, não tenho equipamento, faço registros com o meu celular mesmo. Talvez meu desejo seja captar a sensação do momento, o prazer e gratidão de estar naquele lugar, mas isso é impossível. O melhor da foto é o que fica na retina e no coração. Todos sabemos, e só nós sabemos, o sentido de cada uma das nossas fotos. E assim eu sigo, metendo minha cara nos cartões postais pelo mundo, sempre sorrindo, é claro. As coisas feias, as tristezas, essas não estão na foto!