Na infância, sempre fui muito incentivada às artes. Meu pai, jornalista e, principalmente, artista cênico de coração, criou a mim e minhas duas irmãs sempre bem livres para criar, brincar e usar a imaginação. Nossos desenhos eram sempre colados na parede da sala ou até no corredor do nosso apartamento. Canetinhas, giz de cera e papéis brancos eram livres para nós. Todos os dias víamos nossas criações expostas e, à medida que íamos crescendo e melhorando nossas habilidades, desenvolvíamos também uma certa crítica aos próprios trabalhos: “Poderia estar mais colorido”, “Poderia ter uma linha mais bem traçada”, eu pensava.
É interessante lembrar disso justo no Dia dos Pais. Que bom que lembrei!
À medida que nós três crescíamos, percebíamos o quanto nosso pai cuidava da gente: “Não comam açúcar!”, “Escovem os dentes!”, “Tampem o xampu!”, “Comam legumes e salada!”. Ele buscava água mineral toda semana no Parque Nacional, tinha um jeito especial de não pagar a entrada e, de vez em quando, nos levava para essa pequena aventura. Aliás, tudo com meu pai era uma aventura.
Certa vez, levou a mim, minhas irmãs e minha prima — quatro crianças ao todo — para Milho Verde (MG), um lugar ermo, mas com lindas e perigosas cachoeiras. O carro, um Del Rey 84, não conseguiu subir a estrada de terra, e tivemos que adiar a chegada para o dia seguinte, indo de “pau-de-arara”. Consegue imaginar a cena? Lá, sem carro, íamos à pé nas cachoeiras. A ida era tranquila, descida, a volta…
Depois de nadar e brincar na água… Não tinha salgadinho de lanche, não, era só o almoço da pousada que comíamos feito cão sem dono.
Um ano depois, ele repetiu a dose: dessa vez para Prado (BA), saindo em uma Brasília azul com rodas de liga leve (nunca esqueci isso), sob um sol escaldante sem ar condicionado. Novamente, pai e quatro crianças. Quando voltávamos de viagem, eu pensava: “Meu pai é doido demais. Nem sei como fomos e voltamos bem.” Minha avó? Ficava de cabelos em pé! Para ela era impossível acreditar: “Oh, Luiz Carlos, por que fez isso?” E ele só sorria, achava graça, curtia cuidar das suas crianças.
Todas as influências culturais que recebi e que me acompanham até hoje. Todas as peças teatrais que ele fez eram memorizadas por ele — e também por mim, que ficava encarregada de “tirar” o texto dele. Assistia às apresentações praticamente sempre, pois eram geralmente infantis. Graças ao meu pai, sou violinista e professora de educação artística. Graças a ele e ao seu trabalho voluntário na Apae e na Pestalozzi (instituições voltadas a pessoas com deficiência), também me tornei intérprete de Língua de Sinais e quando passei no concurso para a Secretaria de Educação e surgiu uma vaga no Ensino Especial, e comentei com ele: “Mas são crianças especiais!”, ao que ele respondeu: “Mas isso é maravilhoso!”.
Na verdade, muitas dessas lembranças vieram à tona justo hoje, e graças a elas escrevo também este artigo. Enfim, hoje, Dia dos Pais, quero parabenizar o meu pai — mesmo que no céu — e a todos os pais como ele: guerreiros, presentes e verdadeiramente comprometidos com o papel de PAI.
Obrigada, pai.
Parabéns, pais!
Renata Tavares Linhares Cabidelli













Que lindo!! Uma grande homenagem!!
Parabéns pelo texto e principalmente pelas memórias deliciosas que me permitiu imaginar as aventuras com seu pai!
Que texto emocionante e inspirador! Parabéns Renata
Que lindo! A história de seu pai é muito bonita. Alma de artista é livre. Rsrsr Ele criou filhas que se tornaram mulheres maravilhosas, fortes e humanas.
Isso tudo é verdade, presenciei e afirmou, ele era assim. Feliz dia dos pais Japan super herói.
Que lindo Renata. Ele sempre foi um paizão.sempre cuidando de vcs 3 com muito carinho.. vc soube retratar isso mto bem…ele era fora da caixa! E fez vcs livres . lembre-se disso
Me fez lembrar meu velho pai! Linda crônica!