Sabe-se que a língua portuguesa, principalmente aquela falada no Brasil, é extremamente extensa e complexa, e por conta disso o seu uso é infinitamente difícil e desafiador, mas os erros que vêm se perpetuando hoje é muito acima do aceitável.
Também sabemos que a língua é evolutiva, nunca estática, ou seja, vai se transformando com o passar dos tempos, acompanha os avanços tecnológicos, sociais e culturais. O que não podemos deixar é que estes avanços gerem o empobrecimento da nossa tão sofrida língua.
Lembro-me que quando a Rede Bandeirantes resolveu levar a vida de D. Bêja para a telinha decidiu chamar a novela de D. Beija, em gritante desrespeito à história, tradição e cultura de Araxá. Os erros da mídia hoje são gritantes e em grande número, mas este já é um tema para outra matéria.
Dentre as chamadas “muletas” da língua, ou seja, aquelas expressões que caem no gosto popular e são usadas para “escorar” qualquer frase – daí o nome muleta – a mais atual, escorchante e imbecil é o uso de onde.
Primeiramente podemos conceituar aqui, de forma rápida e simples, a diferença entre onde e aonde. Apesar de alguns dicionários já aceitarem as duas formas como sinônimas, o uso correto ainda deveria ser criteriosamente cumprido. Aqui é bom que se diga que os grandes filólogos e dicionaristas brasileiros infelizmente estão mortos.
Aonde deve ser usado com verbos de movimento e em termos práticos pode ser substituído por “a que lugar” ou “para que lugar”. Já o advérbio onde indica permanência, em frases como “Onde fulano está?” ou “A casa onde moro” (lugar físico). Mas o que se tem visto por aí é o uso indiscriminado de onde e aonde, em frases totalmente erradas tais como: – O jogo onde marquei o gol. / Discurso onde declaro meu amor. / Na oração onde eu pedia paz. / A ideia onde eu dizia que… / etc. e tal…
Em muitos casos, a forma de contornar este problema é substituir o onde por “em que” ou “no qual / na qual”. Mas o uso tem se tornado tão repetitivo e gritante que às vezes têm-se de refazer toda a frase para evitar este pejorativo “onde”. Preste atenção nos textos escritos e na mídia televisiva, e te garanto que não passará um dia sequer sem que você ouça um absurdo destes.
Outra expressão que tem me chamado a atenção pelo uso abusivo e irritante é “na verdade”. Ora, então tudo o que se disse antes é mentira? Use moderadamente esta expressão apenas para complementar pensamentos, ou quando você realmente quiser contradizer o que fora dito antes.
Para encerrar, vamos lembrar da terrível e famigerada expressão “a nível de”. –
A locução “a nível de” tornou-se um modismo desnecessário e condenável, sendo uma das mais terríveis muletas linguísticas da atualidade, em substituição a praticamente tudo que se queira. Veja alguns casos em que a locução aparece e como evitá-la, copiladas no Manual de Redação de “O Estado de S. Paulo” pelo jornalista Eduardo Martins: Decisão “a nível” de diretoria (decisão de diretoria). / Decisão “a nível” de governo (decisão governamental). / Reunião “a nível” internacional (reunião internacional). / O clube está fazendo contratações “a nível de” futuro (contratações para o futuro). / A proposta pelo jogador será “a nível de” (em torno de) 5 a 6 milhões de dólares. / Pude avaliar o técnico “a nível de” (como) uma pessoa pública. / Ela, “a nível da” (em relação à) eleição, só pretende votar bem. / “A nível de” (como) jornalista, prefere assuntos mais leves.
Portanto, use “ao nível de” apenas com o significado de à mesma altura. Exemplo: ao nível do mar. Espero que meus raros leitores – como diria Machado de Assis – não entendam esta crônica como crítica, mas apenas uma tentativa de evitar que a nossa língua vá para o beleléu (numa língua bem popular!).