A pedido da poeta Maria de Lourdes Alba, publicamos neste espaço o seu comentário a respeito do livro italiano de poemas, La Ragazza di Mizpa do autor Angelo Manitta traduzido para o português “ Moça de Masfa” por Alexandru Salomon. Um comentário que certamente servirá de incentivo aos nossos leitores a conhecer essa obra.
O livro retrata em vários poemas a Moça de Masfa, que foi prometida aos deuses em troca da vitória em guerra que parecia impossível.
O pai depara com a realidade de ter que sacrificar sua única filha, aquela que ele ama e adora para cumprir promessa ao seu Deus. A primeira pessoa que ele encontrasse em sua casa seria entregue, mas quando sentiu que a filha lhe era a tal pessoa temeu pelo que tinha de mais grato e de mais importante na vida, não recuou e foi fiel a dita promessa.
Um drama impressionante em que Angelo Manitta discorre em versos sequenciais com que relata e conta todo o dilema e o sofrimento com que o pai e a moça se deparam. Ambos são resignados pela situação e a espera solicitada pela moça de dois meses antes da execução lhe é concedida, o que só aumenta a angústia.
A história é belíssima e nos traz pontos de reflexão em que se trabalha a Vida e a Morte, o amor e a resignação diante da promessa concedida e a força do Divino entre ambos.
Os poemas tem um sutil refinamento com abrangência de sentimentos e valores culturais e religiosos que levam o leitor ao conhecimento, a reflexão, usando elementos da natureza e de forma poética efusiva. A sensibilidade com que o autor trabalha os versos nos traz a compreensão e nos coloca cara a cara com os princípios e as concepções que regem o Divino.
Não se trata de uma simples antologia, há que se notar que a Moça de Masfa foi devidamente estudada e os poemas detalhados na passagem bíblica, respeitando a sequência e a essência em passos desnudados de cultura e êxtase, fazendo uso da mitologia grega entrelaçada com os elementos bíblicos.
A força dos deuses entalhada em palavras vãs, no apelo ofegante da vitória e da continuidade da existência, resulta no sacrifício da única filha, no questionamento dos por quês.
Num contexto de beleza com que o autor trabalha e na eficiência da tradução ao lermos em voz alta percebo que a leitura vai envolvendo e vai crescendo, crescendo, até chegar ao ápice, finalizando em trombetas de tons orquestrais e dramáticos, atingindo o êxtase até o suspiro final.
Magnifica obra com abrangência cultural perfazendo tons de serenidade com que é relatada. Merece ser lida e estudada.
Recomendo!
Maria de Lourdes Alba