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33 anos depois ele continua mais vivo que nunca
Se para fugirmos deste mundo mesquinho chamado terra, onde seres semelhantes se engalfinham e se matam constantemente por valores materiais nada valiosos, e podermos alcançar um plano transcendental, onde a liberdade de vida é medida pela simples alternativa de viver e sonhar houvesse uma porta, Raul Seixas certamente possuía sua chave.
E dela se valia sempre que possível para buscar inspiração para suas canções, que mais poderíamos chamar de profecias e filosofias musicadas. Quem acompanhou a fundo sua trajetória e soube interpretá-las em sua profundidade, sabe que na verdade ele não pertenceu ao nosso universo. Era um viajante, um ser mutável, que ia e vinha sobre nossas mentes, falando de sonhos e de valores que tanto desejamos e não ousamos sequer sonhar com sua existência. O que sempre pareceu loucura e irreverência em suas canções nada mais era do que um profundo conhecimento sobre valores e energias por nós nunca concebidas. Ele não era um brasileiro, era um viajante interplanetário que cansou de mostrar ao próximo que a vida não se resume a ir com a família aos domingos ao zoo dar pipocas aos macacos, nem tão pouco usarmos apenas 10% da capacidade mental que possuímos e nos julgarmos grandes homens ou que estejamos contribuindo com nossa Pátria por isso. Raul Seixas era muito mais, era um alquimista de ideias e de emoções, sabia que o bem e o mal sempre foram energias pulsantes dentro de nós e que por isso mesmo não podem ser negadas e sim controladas para que nenhuma extrapole os limites de domínio dentro de nós.
Por isso talvez fosse um dos poucos capaz de imaginar que o bem e o mal pudessem se unir num romance astral (Trem das sete). Sabia também que a liberdade de existir está dentro do ser e é um valor intransferível e incontrolável pela força, e isso ficava bem claro quando dizia em sua canção Medo da Chuva. …”é pena, que você pense que eu sou seu escravo, dizendo que eu sou seu marido e não posso partir”… E foi com esta decisão própria de quem não se limitava às imposições humanas, que apesar de tantas ligações entre nós ele acabou partindo em busca de sua tão sonhada “Sociedade Alternativa”.
Foi tudo e foi nada sem nunca se deixar estagnar. Viveu sua trajetória como sempre quis, uma “Metamorfose Ambulante”, que nascido Há dez mil anos atrás, conheceu a história do mundo, e viu tudo o que queria e o que não queria ver. Raul partiu entre nuvens de mil megatons. Uma partida que deixa no ar uma incógnita “de ter ou não ter vivido entre nós”? Quem era realmente Raul Seixas? Como ele próprio afirmou em “Gita”, “perguntas não vão lhe mostrar que eu sou feito da terra, do fogo da água e do ar”… E certamente em cada partícula destes elementos vamos sempre encontrar um pouco desta energia cósmica que foi e sempre será Raul Seixas. Apague a Terra, acenda a mente, ligue os conhecimentos, coloque o disco na vitrola e… Plunct Plact Zuuuummm, vamos embarcar na saudade de quem nunca morreu nem existiu, porque nunca foi deste planeta. Boa viagem Raul.
Escrevemos e publicamos este texto em 1989 por ocasião da morte do cantor e exatamente hoje, 21 de agosto de 2022, decorridos 33 anos de sua passagem definitiva para o Universo, nossa opinião a seu respeito continua a mesma. Raul Seixas foi e sempre será uma das maiores incógnitas musicais que o mundo já teve. Uma discografia que vale a pena ser conhecida por aqueles que estão chegando agora.
Domingos Antunes Guimarães – Jornalista radialista e escritor.
Parabéns pelo texto, meu amigo! Perfeito! Somente alguém com o seu profissionalismo e sensibilidade poderia escrever tão bem sobre Raul Seixas, como você disse, uma metamorfose ambulante que nos deixou ensinamentos atemporais! Parabéns!