Para o economista-chefe da Fecomércio MG, caso outras reformas se efetivem, o Brasil deverá avançar na recuperação de empregos e investimentos
A palavra ‘reforma’ se tornou habitual no noticiário em 2019. Ao longo do ano, a corrida pela aprovação da Reforma da Previdência, da Lei da Liberdade Econômica e da Lei do Cadastro Positivo deram o tom do atual governo. As medidas visaram simplificar a burocracia, facilitar a abertura de empresas e estimular a geração de mais empregos no país. Mas qual o impacto dessa política para 2020?
Após flertar com o risco de recessão no 2º semestre deste ano, o Brasil dá sinais de um crescimento mais consistente em 2020. A projeção da União é que o Produto Interno Bruto (PIB) expanda 2,32%, acima da média de 1,7% para os países desenvolvidos, prevista pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). A expectativa pelas reformas tributária e administrativa contribuem para essa projeção positiva.
O economista-chefe da Fecomércio MG, Guilherme Almeida, destaca a melhora dos indicadores macroeconômicos, mas faz uma ressalva. “Neste ano, a taxa Selic atingiu o menor patamar da história (5% ao ano), a inflação se comportou abaixo do centro da meta (4,25%) e o país recuperou mais de 840 mil empregos formais até outubro. Mas, para que 2020 supere 2019, é preciso avançar nas reformas.”
Confira a seguir a análise do economista-chefe da Federação sobre os indicadores macroeconômicos e as perspectivas para o setor de comércio e serviços em 2020.
Reformas. A agenda da equipe liderada por Paulo Guedes teve efeito positivo no mercado em 2019. Segundo Almeida, o governo deu um passo para reequilibrar as contas públicas ao propor a Reforma da Previdência. No entanto, ele ressalta que o Brasil precisa de outras reformas, como a Tributária. “Só com a adequação de questões estruturais e a diminuição da carga tributária, o país terá um ambiente capaz de reverter o crescimento tímido e os desinvestimentos nos últimos anos.”
PIB. A diminuição da ociosidade na indústria, a agenda de reformas e o aumento do consumo familiar – responsável por 60% do Produto Interno Bruto – devem fazer com que a soma das riquezas produzidas no país termine 2020 em 2,32%. “Caso as projeções se confirmem, este será o melhor resultado registrado desde 2013, quando o PIB encerrou em 3%, um ano antes da crise”, compara.
Inflação. Em 2019, o Conselho Monetário Nacional (CMN) estabeleceu o centro da meta da inflação em 4,25%. Entretanto, em virtude do consumo ainda fraco, o nível geral de preços tem se comportado abaixo desse patamar. Por isso, em 2020, o Banco Central ainda projeta uma inflação baixa: 3,6%. “Se a política monetária continuar incentivando o consumo e a indústria voltar a crescer, demandando mais produção, os preços poderão pressionar a inflação para além do centro da meta”, explica.
Taxa de juros. A inflação baixa permite ao Copom reduzir ainda mais a Selic. A expectativa é que a taxa básica termine 2020 em 4,5%, meio ponto abaixo do menor patamar histórico atingido neste ano: 5%. “Essa flexibilização dependerá de vários fatores, desde o comportamento dos preços – em especial dos alimentos, responsáveis por 25% do gasto familiar – à desvalorização do real frente ao dólar – que pode encarecer itens de consumo cujos insumos são importados”, avalia.
Emprego. Um pacote de leis de incentivo à redução da burocracia, à expansão de novas empresas e ao acesso ao crédito foi lançado com grande expectativa em 2019. Não à toa, o FMI prevê que o desemprego caia de 11,6%, no 3º trimestre deste ano, para 10,8% em 2020. “A informalidade tem contribuído, em parte, para a retomada do emprego. Apesar disso, a melhora na confiança do empresário e a recuperação do consumo devem impulsionar a demanda por mão de obra.”
Comércio e serviços. Diante dessas projeções, como fica o setor terciário em 2020? De acordo com a CNC, o varejo ampliado deve registrar alta de 5,6% no próximo ano. “A demanda por produtos e serviços devem subir graças ao consumo familiar, que será estimulado pela inflação baixa, os juros em queda e a perspectiva de liberação de mais R$ 12 bilhões em recursos extras do FGTS”, conclui Almeida.