STEFAN SALEJ
Minas está onde sempre esteve.
Uma das frases preferidas dos mineiros, em especial dos políticos sábios, é que estamos onde estamos e você tem que saber onde estamos. Se não entrarmos na discussão política, onde as variáveis de funcionamento são inexplicáveis para o cidadão comum, sobra-nos a parte econômica, que no fundo tem muita influência sobre a política. Aliás, é a que paga o exercício da política.
Nesse capítulo, Minas, segundo os dados da revista Mercado Comum e do Diário do Comércio, deixou de estar onde esteve há muito tempo. A nossa diferença com São Paulo, estado mais competitivo do Brasil, foi aumentada nas últimas décadas. Não só os governos mais recentes deixaram um arraso nas contas públicas como também até agora nenhum governo federal cumpriu e pagou as diferenças que pertencem ao estado no caso da exportação de minérios, ou seja a chamada Lei Kandir, o que afeta e em muito a consolidação e o crescimento do Estado. A distância que nos separa de São Paulo é de 50 anos, se aumentarmos em 5 % ao ano o nosso Produto Interno Bruto. A indústria mineira virou filial de empresas com sede em São Paulo ou no exterior e perdeu em faturamento nos últimos 15 anos mais de 50 %.
A situação dramática não deve assustar. Não é só o desastre de Mariana que nos deve levar a uma reflexão serena sobre o futuro do Estado, que assumiu o segundo lugar na economia brasileira por causa da queda da economia fluminense. No passado foram feitos diagnósticos da economia mineira que levaram a um plano de desenvolvimento no início dos anos 60 e 70. Deu certo.
Hoje, o mundo é diferente, em especial quanto à globalização e tecnologias. Então, você tem ainda exemplos de empresas mineiras líderes nacionais, como a Kroton, Martins, Algar, Unimed BH ( a mais bem administrada Unimed do Brasil), Localiza, Forno de Minas, Araujo, Cia. Do Terno, Itambé, e tantas outras. Nós temos um movimento de start up nada desprezível e temos graças ao Guilherme Emrich não só um centro de biotecnologia mas também um centro de pesquisas da Google.
Temos um setor agrícola que deixou no chinelo a indústria, e está despontando como líder da economia. Demos um tiro no pé com a destruição do cluster de serviços e industrial em torno do aeroporto de Confins. Ou seja um passo para a frente e dois para trás.
Minas são várias disse Guimarães Rosa. Aliás, Minas na cultura, com o grupo Corpo, produções teatrais, músicos, Inhotim, de longe supera o marasmo econômico e também tem reconhecimento mundial.
Está na hora de Minas e em especial as suas entidades de classe voltarem a abraçar o projeto Cresce Minas, projeto que uniu a todos, governo e empresariado, na década de 90 e, através da introdução da metodologia de clusters, desenvolveu Minas. Fez a Minas, que tem na sua gente o seu valor maior, crescer.
STEFAN SALEJ, consultor empresarial, foi presidente do Sistema Fiemg e do Sebrae MG