Tem dias em que a vida é apenas isto, um vácuo, nem mais, nem menos. Tudo ao redor parece sem respostas e sem questionamentos. Tem dias que a gente não se sente ninguém. O mínimo de esforço desponta como o máximo de sacrifício e transpassa inerme todas as nossas forças até a exaustão. É como se, num único cansaço, o nosso vigor, esgotado totalmente, despejasse, já com a respiração ofegante, a última gota de suor e de sangue. Assim, como num gesto derradeiro, despovoado de si mesmo, se desejasse consagrar os próximos minutos e momentos apenas ao silêncio, ao sossego e à serenidade.
Relegado todo esforço de raciocínio, de movimento físico ou outra atividade absorvente de energia, o único e prazeroso ânimo é prestar um tributo à inércia. Deitar em rede e, em profundo e tranqüilo repouso, deixar chegar calmamente, já quase num suspiro, o ócio desejado, a folga merecida, a pachorra mental e física cobiçada; enfim, o alívio de quem busca, num estado de quem se silencia, apenas a “paz”.
Mas, antes do repouso ambicionado, uma última batalha ainda se torna necessária e imprescindível para que a luta prestimosa não seja inútil. Há sempre, para aqueles desprovidos que nada mais buscam que o silêncio, dois pontos vitais para viver e sentir, verdadeiramente, o grande vazio: além da ausência de ruídos, ir em busca do mais importante e fundamental para a recomposição humana – o silenciar-se. Não basta, apenas, haver silêncio em torno; é preciso possuí-lo e guardá-lo interiormente, a sete chaves, num estado de quem se cala, simplesmente. E só a partir daí, é que podemos, confortavelmente, afrouxar a roupa, relaxar o corpo e negligenciar a alma e a mente.
Tudo aquilo que parecia intolerável, insustentável, insuportável, enfadonho às nossas forças sofre, agora, a permuta do ‘vazio exaustivo’ para o ‘vazio satisfatório’. É o preenchimento do vazio que nada contém para um vazio que começa a ser preenchido em tudo que sua capacidade comporta e satura, refazendo, assim, as energias. Abandona-se a inércia de um pleno vazio e se lança, numa troca simultânea, na busca de novas e boas energias renováveis à alma e ao ser; capazes de superar o vácuo, o abismo, a falta de gravidade, o desequilíbrio. O ar, que parecia rarefeito, ganha partículas de energia, trazidas pelo sopro que alimenta o espírito e dá força e vigor à vida, novamente.
A inércia, vencida por ela mesma, triunfa preguiçosa, sorrateira, sossegada… É como se curar matreiramente com o próprio veneno, já não mais nocivo.
E, num nocaute estonteante, de quem deseja permanecer imobilizado, poder se assegurar somente de uma respiração tranqüila e constante de quem vence a fadiga e o cansaço da vida. Bom mesmo é quando a parada não é obrigatória. Quando a vida mesma vive o seu próprio amanhecer e, cheia de energia, se consome e se refaz.
Nada como um dia após o outro.
Mas, quem, afinal, nunca sentiu um grande vazio?
Antonio Trotta – Jornalista
atrottamg@gmail.com














Encontrar o silêncio interior é uma grande conquista! Estou empenhada em preservá-lo! Obrigada pela reflexão!
Eu que agradeço pela dica, comentário e desempenho. Sucesso.
Meu Amigo…na verdade..questiono muito..quero saber de muitas coisas..principalmente Espiritual..o que posso melhorar, etc…vazio, sem questionamento, acredito que poucas pessoas as vezes se sentem assim…sempre queremos algo, algo mais..o que fazer, estou feliz, para que lado vou, quem sou, quem realmente me Ama..alguns poucos questionamentos dos que nada pensam..
Sim preencher-se de vida e do sopro do espírito é sempre uma benção. Que os ventos soprem em nossa direção.
Do Caos (Kaos) vamos a ordem – Cosmos (Kaosmos). Parabéns pelo escrito e pela grande reflexão que nos levaa fazer!!!
A vida pede essas mudanças e desafios. Ninguém faz omelete sem quebrar ovos. Seguir em frente e em transformação.
Amo suas reflexões ❤
Essa em especial me lembra um livro que li a muitos anos atrás:
“A Essêncial Arte de Parar”
Assim como no seu texto ele deixa claro que parar é necessário; se não paramos por opção a vida nos freia impiedosamente
Com o que aprendi no livro e não coloquei em prática, a vida me ensinou e aprendi que Parar por opção é IMPRESCINDÍVEL e MARAVILHOSO ❤
Excelente sugestão. Parar para tomar fôlego, mudar a rota, organizar a vida. A parada é necessária e fundamental.
Seu texto captura bem a tensão entre o fluxo natural e os momentos de vazio que todos enfrentamos…um convite a aceitar tanto a efervescência da vida quanto suas pausas inevitáveis. Parabéns…
Verdade, quem já não passou por alguns momentos como esse? O vazio na filosofia oriental é importante, pois abre espaço para novos olhares e descobertas.
Verdade, minha cara. Precisamos pausar e se esvaziar para recomeçar.
Lindo texto! A vida muitas vezes precisa de pausas e a alma de calma. Solitude sim, mas com cuidado para não ficarmos isolados do mundo. ❤️
Pausa e calma, duas atitudes necessárias. Às vezes somos atropelados pelo momento, pelo inesperado. Pauaa e calma, duas grandes auxiliares.
Linda reflexão poética, os momentos de exaustão em que a vida parece um vazio, mas também mostra como o silêncio e o repouso podem transformar esse cansaço em renovação. Uma reflexão sobre a importância de se permitir parar, descansar e encontrar paz interior para recuperar forças.
Parabéns pela escrita ✨️
Este vazio tão silencioso não me chega! Mas suas palavras me remetem ao Espaço, um vazio imenso, que quando fecundado cria vida manifestada! Um lugar cuja substância é cálice de um ócio criativo (como diria Demasi). A caverna onde os Rishis se recolhiam, onde qualquer outra respiração seria invasiva! Sim, ele existe, este lugar, no mais profundo de cada Ser!
Intenso seu texto! Parabéns! Gratidão!
Entrar em nossas profundidades. Mergulhar fundo e se sentir diante do vazio. Buscar águas mais profundas e encontrar respostas.
Linda reflexão de forma poética, os momentos de exaustão em que a vida parece um vazio, mas também mostra como o silêncio e o repouso podem transformar esse cansaço em renovação. Uma reflexão sobre a importância de se permitir parar, descansar e encontrar paz interior para recuperar forças.
Parabéns pela escrita!
Quem nunca?
O risco é não valorizar ou não se permitir esses entreatos tão necessários.
Bem sábias palavras e a ligeireza, hoje, realmente não me deixa dar o desfrute da inércia. Não agora, mas sim na hora da siesta. Numa rede, pendurada no vazio da alma, espaço florido, que guardo para passeios particulares, em estado quase vegetativo, de puro vácuo.
Depois que tirei o pé do acelerador, pois sou geminiana do último decanato, passei a conhecer-me e reconhecer-me melhor.
Proatividade!
Ser proativo em excesso é deixar de nós para facilitar a vida de tantos outros que não querem sair da rede por nada…
Hoje tenho uma rede preguiçosa para deitar, sempre que preciso e nessa rede construo a teia infinita de recantos encantados, pois o mundo anda pesado demais.
Correr e parar fazem parte da mesma necessidade. Sempre há momentos para um como para o outro. A intensidade é que deve ser respeitada para não sobrecarregar. Quando na rede a pachorra merecida.
Caro Amigo Protta!
Quando me encontro neste vazio.
Eu procuro orar, cantar músicas que me lembrem momentos felizes, caminhar enfim me encontrar novamente.
Excelente sugestão. Sair da inércia nos faz reviver. Pausar é necessário para continuar e viver.
Um dia me questionei e através do meu reflexo no espelho falei… Você já chorou calada, já desabafou com as paredes e muitas vezes pensou quieta..e se mesmo assim, consegue por um sorriso no rosto então minha cara você e é forte. Onde viajo com meus pensamentos para algum lugar só meu; onde respirar com suavidade é uma necessidade da mente e corpo. Mesmo que fique ali olhando pro nada, não tem problema, porque neste momento eu me encontro e me refaço sem medo. Hoje busco meu espaço junto aos meus, num café a tarde com filha, com uma ou duas amigas, entre caminhadas e trilhas vou fortalecendo minha essência. Neste trabalhar corpo e mente coloco num papel minhas emoções, assim vou rabiscando a estrada que caminho. Nada é perfeito e isso é muito bom.
Excelente texto. Coerente com quem quer crescer e vai em busca de sua essência. Nada é fácil, mas tudo é possível. Grato
Vou tentar resumimir em uma única palavra.
PROPÓSITO!
Sim. Por que não? Um propósito nos faz levantar e correr atrás. Sua determinação é o seu propósito. Valeu.
…um momento… uma pausa… reticências do viver!
Assim vejo esse […] narrado no seu texto .
Não há vocábulo que o descreva e nem mesmo elementos quaisquer que o decifre.
É um intervalo reticente entre as reticências …
Quem sabe aos olhos de um poeta ?
Nossa, Trotta! Li várias vezes para ter a certeza de que vc conseguiu descrever esse dia “branco”! Parabéns. Assim é o escritor, assim é o poeta!
Amei suas reticências… sim, necessárias pausas Não é a respiração em si, mas o intervalo entre o inspirar e o expirar. (…) Eis onde elas estão (…). Esse é o branco que vc comenta. Sua reflexão foi profunda. Gratidão
Em um mundo barulhento, cheio de questionamentos, e narrativas, é preciso buscar respostas no silêncio da alma.
Ótima reflexão!
Oi Ana. Verdade necessária. Muitas vezes o silêncio é a própria resposta. A alma, como vc cita, pede esse momento de paz. Grato.
O vazio, às vezes, se faz necessário para nos enchermos novamente de nós mesmos!
Parabéns pelo lindo texto!
Verdade. Processo nécessaire e obrigatório para nós refazermos. Tirar o que não é mais necessário para dar espaços aos novos projetos.
Quem nunca sentiu um grande vazio ? Eu
Texto bem escrito muito elucidativo que me remete a uma sensação de pena enorme , mas até com vontade de experimentar esse vazio