A vida passa pela minha janela. Lá fora desfilam as fazendas, caminhões prá lá e prá cá transportando a produção. Passam empresas, indústrias, grandes edificações que, imagino, abrigam muitos trabalhadores. O asfalto é plano, reformado, colocado em condições de atender os negócios locais. Quando não há interesse, quando a população da volta não gera muitos impostos ou não tem amigos importantes, a estrada não está boa, certamente, não é consertada há tempos!
Normalmente deixo o celular sintonizado em algum canal de notícias no Youtube. Ouço tudo, me atualizo sobre o que acontece no Brasil e no mundo. É gente reportando, entrevistando, comentando fatos o dia inteiro. Às vezes, desligo as notícias, não ouço nenhuma música, me dedico a ouvir somente os sons da estrada. A imensidão da faixa à frente, a vegetação correndo a meu lado. É nesses momentos que percebo os sons da minha casinha sobre rodas. Era estranho no início, mas já me acostumei. Ouço algum estalido das panelas dentro da gaveta, devo ter deixado algum espaço entre elas. Lá vem o rangido da mesa de refeições, o que ocorre quando ela não está bem colocada, faz um barulhinho avisando que na próxima parada ela precisa ser melhor encaixada. A porta do box está quieta desta vez, ela, muitas vezes, também grita por socorro, pedindo que seu trinco seja atarraxado novamente. Ele teima em afrouxar pelo balanço da estrada. Os sons da minha casinha me lembram que estou em casa sempre, em qualquer lugar. Sinto uma espécie de conforto sabendo que, a qualquer momento, posso parar, descansar ou fazer uma comidinha. Levo o aconchego do meu lar comigo. E lá fora os demais sons da estrada. Os grandes caminhões, as carretas rasgam meus tímpanos, parece que estão, literalmente, cortando meu caminho. O som dos caminhões é alto, mas uniforme. Não há muita variação de volume e tom. Numa estrada movimentada o som é como dormir com o ar-condicionado ligado, ruído constante oprimindo sua cabeça. Os carros de passeio, velozes, fazem sua dança na estrada provocando aceleração, redução, frenagem sobre o asfalto, anunciando o humor da estrada: se o tráfego está fluindo, se está congestionado, se algum acidente ou obra está provocando arranca e para. E as motos…Essas abrem caminho cantando motores e pneus, cada uma do seu jeito, todas diferentes umas das outras. As motos das estradas têm ronco robusto, até assustam quando aceleram do nosso lado. Contrastam com as pequenas motos, muitas caindo aos pedaços, com as quais cruzamos nas grandes cidades. Na estrada sinto falta de vozes, de pessoas, de conversa. Não me basta a voz do meu “rádio” (é assim que chamo meu celular antigo, sempre ligado nos noticiários). Os andarilhos no acostamento me acenam, eu retribuo, cheia de vontade de escutá-los.
Às vezes faço isso. Meu marido dirige em silêncio, tem preferência pelo som do nosso e dos outros motores a nossa volta. Os sons da estrada me são familiares, se misturam com os meus pensamentos e com os “barulhos” da minha cabeça. Quando a estrada permite, pouco tráfego, quando há somente a imensidão do asfalto e a vegetação ao redor, gosto de meditar.
Curto o silêncio, faço o exercício de desinflamar a mente, acalmar a alma. Só escuto o motor do nosso carro, companheiro constante, não me deixando esquecer que a nossa vida está em movimento.
Maria Élida Machado – especial para o jornal exempplar.














E assim conquistamos e conhecemos cidades, lugarejos, povoados e Vilas, onde paramos para almoçar ou pernoitar interagimos com os nativos e continuamos “trilhando vida”.
Que maravilha! Parabéns! É desse jeito a vida nesse mundo de estradas! Viajei com você!
Elida, assim a gente viaja junto e visita tua casinha!
Mais uma crônica excepcional
Obrigado Ualace…
E vamojuntooooo aqui também!
Vamboraaaaa amiga!
E vamojuntooooo…❤️❤️❤️❤️
Deu para viajar só ao ler seu texto, é como se eu estivesse vendo e ouvindo tudo, como gostoso saber seu dia a dia.
E vamojuntooooo aqui no Exempplar também!
Obrigada pelo comentário!
Concordo o sons da estrada e dos lugares onde passamos sempre são otimos para refletir e meditar. Tento fazer isso nas viagens longas mas sempre caio no sono com o repetir das paisagens. adorei a escrita
Continuamos viajando juntos! Agora aqui no Exempplar!
Que relato perfeito dos sons da estrada e sobre os rangidos e estalos da casa rodante. Sou sua companheira nesse relato, também adoro observar as passagens da estrada, o gado, as comunidades…
Me assusto fácil com motos estridentes e buzinas escandalosas e desnecessárias muitas vezes.
Quem é nômade sabe! Sente!
A crônica dos sons da estrada me fez lembrar de um livro que li há muito tempo: “Zen e a arte da manutenção de motocicletas”. Obrigada por despertar em mim algo adormecido. Abraços e boas viagens
Que lindo! Obrigada!
Trilhando muito bem a expressão do sentir- escrever numa sintonia fina…suave…como num domingo de tarde…ou hora do Rush…com suas imperfeições e belezas por vezes..escondidas pela maré de edifícios cada vez maiores…by MELOnick!Ekçelent!
Obrigada pelo teu sensível comentário!
Obrigada…vamojuntooooo! No barulho ou no silêncio da estrada!
Elida, hoje viajei com vocês, dentro das suas narrativas quase que ouvindo os seus sons, pois em muitas viagens, que fazia de Salvador a Porto Alegre, era mais ou menos isso. era gostoso ouvir o sim da estrada, das saudações a beira do caminho, entrega de roupas , alimentos, sempre levava. Pessoas estranhas, dentro de hoteis, um restaurante ou bolicho de beira de estrada, e nos cumprimentos se dar conta que somos quase todos amigos, e vem um papo, de onde vem, para onde vai, ….a tempo bom. viajei contigo, obrigada.
Que lindo! A estrada provoca lembranças…Obrigada por compartilhar!
Viajando junto com vocês dupla!
Viajando e treinando..
Muito bom. Boa viagem Élida e Gilbrto e bons sons da estrada.
Q legal. Boa viagem Élida e Gilberto. Bons sons da estrada!
Q legal Élida. Boa viagem p vcs.
Vigi!. Parecia q estava dando erro. Respondi 3x rsrsrs
Que bom que estás aqui no Exempplar!
Obrigada pelos comentários repetidos! Kkkkk
Bonito relato dos sons!
Junto deles vem os pensamentos , lembranças e reflexões da vida.
E verdade…a concentração nos sons geram meditação!
Obrigada pelo comentário!
Realmente um texto muito reflexivo sobre o que percebemos quando andamos pelas estradas da vida. Muitas bênçãos sempre nas viagens de vocês!
Amém. E siga conosco também aqui no Exempplar.
Querida Élida!
A sua crônica me transportou pela preciosidade do texto, entre silêncios e ruídos da estrada . Tem sido muito bom viajar com vocês.
Obrigada! E vamojuntooooo…