
Não.Não quero rosas, quero jardins! Quero apreciar toda a sua magnitude. Vivenciar nas roseiras o seu ciclo vital, ainda em botão, seu desabrochar até chegar à plenitude. Poder, sem nenhum “poder”, observar as pétalas, agora tombadas sobre a terra que lhe deu vida, cheiro, cor e beleza. Não. Não quero abreviar seu ciclo, mas prolongar, ao máximo, sua existência, lá onde a vida foi soprada.
Não quero as rosas ornamentando o meu mundo, mas o mundo. Não quero tê-las cativas em minhas mãos, por mais belas que possam ser. Nos jardins elas são livres, pertencem ao vento, aos passarinhos, à noite, ao luar, aos apaixonados. Flores que brotam da terra, enraizadas na sua própria sorte e destino. São belas. São flores. São elas.
Almeje jardins! Ouse plantar e não colhê-las. Que o desejo do ser seja maior que o simples prazer do ter. Só os jardins possuem a beleza das flores. Um bouquet nos pertence, não a sua plenitude, a sua grandeza. Nos jardins, a vida pulsa e se desenvolve suntuosa, intensa. É uma beleza em plenitude. Cultive jardins e você terá verdadeiramente as flores e tudo que dela exala. Ao plantar rosa, cultivará satisfação e regará sonhos. Um jardim, por menor que seja, contém mais que uma semente. E, nele, a vida acontece, ao vivo e colorida, naturalmente.
Que os namorados não se prendam ao cheiro do botão ofertado, mas aos jardins. Que, ao cuidarem da terra, cuidem da convivência entre eles; ao plantarem sementes, invistam na vida; ao regarem os campos, acreditem no amor; ao desabrochar de uma rosa, construam relações duradoras; ao reconhecerem a beleza e a plenitude dos jardins, alimentem a alma com poesia e dedicação.
Na escuridão da noite, mire as estrelas. Na dificuldade da vida, cultive jardins. Plante. Regue. Cuide. Aproxime-se do belo e da beleza. A vida é natural; os jardins fazem parte da natureza. Não se preocupe com os espinhos; mesmo as flores precisam de proteção. Aprender a conviver com os obstáculos é uma luta diária das plantas. Aprenda com elas os segredos da existência: apesar de tudo, ainda são capazes de exalar perfume.
Não se cultivam rosas pelos espinhos, mas pelas flores, pela beleza e pela necessidade do ajardinamento. A vida não é um deserto. Eles existem e estão por toda parte. É preciso avançar no cultivo de jardins. Regar a terra, adubar o chão, criar novas perspectivas, preparar o coração. Há momentos em que a vida é um jardim em flor. Há situações em que é preciso botar as mãos, remexer o chão e trabalhar a terra de corpo e alma. Só assim podemos reconhecer o novo, o que há de florir na próxima primavera. Ao ganhar uma rosa, percebe-se a sua beleza. Ao cultivar um jardim, dá-se vida ao belo. E belo é um jardim em flores.
Não quero rosas, almejo jardins!
Antonio Trotta – Jornalista, escritor e poeta
@atrottamg














Magnífica crônica a revelar que o cronista também é poeta (será?) . Transmite com muita fidelidade a beleza e utilidades que um jardim pode nos proporcionar.
Sim. Também faço poesias. Um jardim é sempre a morada das rosas e seu sublime lar.
Eu também quero as rosas
Você merece todos os jardins. Aliás, vc é uma linda rosa em nosso jardim da nossa existência.
Pois é, que façamos como a natureza – sejamos atentos aos ciclos que chegam em seu tempo certo. Cultivar a terra, semear com o compromisso sem pressa. Deixar que cada semente tombada no chão emane suas folhas, flores e frutos sem pular fases. Gostei demais da sua semeadura. Os dias precisam de mais jardins e jardineiros.
Verdade, minha cara Malu. Precisamos “de mais jardins e jardineiros”. E vc é uma jardineira de mãos abençoadas que multiplicam sensibilidades e poesias por onde passa.
“Fica sempre um pouco de perfume nas mãos que oferecem rosas”. Quero apresentar para Araxá e região, essa mulher forte que exala cultura e literatura em sua região, o Sul de Minas. Grato pelas suas palavras.
Na frase: Não quero as rosas ornamentando o meu mundo, mas o Mundo.
Assim somos como a um imenso jardim, livres e plenos, pulsando vida. Que as pessoas tenham esta sensibilidade de entender o poder em cultivar um jardim seja ele de rosas ou não, pois sempre será um jardim a ser contemplado.
Verdade. Contemplado e completado por nós, seja com sementes, mudas ou poesias. A vida pulsa em todos os terrenos. Gratidão.
Olá, lindas palavras, descreve o jardim e as rosas como pessoas…. penso eu, …como as rosas temos que ser e ter o cuidado em passar pelos processos de nascer, crescer e sobreviver ao tempo não importa se tem chuva ou Sol. Saber contemplar uma rosa num jardim e ver o olhar de uma criança em sua inocência, onde nada é perigoso. A Rosa no seu desabrochar trás em suas pétalas a delicadeza e um perfume próprio…e precisamos ter a sensibilidade e ver o quão bela é a natureza.
Meu entendimento foi este acima descrito.
Grata
Sim. Um jardim produz muito mais que rosas . Há muitas coisas boas para plantar no mundo. Vamos semeando.
Não quero rosas, quero jardins. Linda crônica, nos lembra que amar é cultivar, não possuir. Que a beleza maior está no processo, não no instante. Tu sempre arrasando
Amar é deixar que a escolha seja e aconteça livremente. Decidi, não só o que quer, mas principalmente o que não quer.
“Já reguei quase todas as plantas
Já chorei sobre todo jardim
Elas gostam da chuva que molha
Elas pensam que o sol é ruim
Quando o sol, nos meus olhos, brilhava
Por amar minha flor tanto assim
Fui feliz sem saber que secava
A rosa e trazia o seu fim.”
Frejat
Linda canção de Frejat. Os jardins nos ensinam sempre. Há sempre uma lição em cada flor, em cada plantio, em cada cultivo. Plantar é preciso.
Que linda sua crônica!! Poesia pura! Sabe mexer com nossos sentimentos.
Assim como um jardineiro mexe em um jardim. É preciso saber onde plantar.